Nacional | Araçatuba | Bauru | Campinas | Franca | Jundiaí | Piracicaba | Rio Preto | São José dos Campos
BAURU
BAURU
Entrevista da semana: Priscila Bianchini de Assunção Alferes
Entrevista da semana: Priscila Bianchini de Assunção Alferes
Com quase 30 anos de carreira, ela atuou na Polícia Militar e em diversos setores da Polícia Civil, onde segue como delegada
Com quase 30 anos de carreira, ela atuou na Polícia Militar e em diversos setores da Polícia Civil, onde segue como delegada
Tisa Moraes

"Eu me sinto completa porque consegui atuar um pouco em cada esfera da polícia". Este é o balanço que a delegada Priscila Bianchini de Assunção Alferes, 46 anos, faz de suas quase três décadas de carreira como policial. Inspirada no pai, Manoel, capitão aposentado, ela ingressou, aos 18 anos, na Polícia Militar, onde atuou no Batalhão de Choque, em São Paulo, cidade em que nasceu.
Pouco depois, tornou-se investigadora da Polícia Civil e trabalhou no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), lidando, inclusive, com casos de repercussão nacional. Já como delegada, casada com o tenente Eduardo Henrique Alferes e mãe de Eduarda, veio morar com a família em Bauru.
Na cidade, foi titular da Delegacia de Defesa da Mulher, até migrar definitivamente para a esfera administrativa, como delegada assistente da Delegacia Seccional de Bauru, que abrange 19 municípios. Lá, coordena investigações sobre crimes envolvendo políticos e atua no Centro de Inteligência da Polícia Civil, entre outras atividades.
É, ainda, coautora do livro "Lei Maria da Penha explicada", escrito em parceria com o delegado Eron Veríssimo Gimenes e Eduardo. A obra foi lançada em 2016, um ano antes de Priscila perder o marido para uma doença autoimune, que provocou um câncer. Nesta entrevista, ela revisita sua trajetória, relembra o momento mais difícil de sua vida e revela planos para o futuro dentro do universo da gastronomia. Leia os principais trechos.
JC - A escolha pela carreira policial foi inspirada no seu pai?
Priscila - Sim. Primeiro, fui policial militar. Estudei em colégio militar e, com 18 anos, ingressei na PM, como soldado, em São Paulo. Trabalhei no Copom, no Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e no Canil da PM. Após quatro anos, passei no concurso da Polícia Civil, como investigadora. Fui para a Academia de Polícia Civil em 1999. Quando terminei, fui para o extinto Departamento do Consumidor e, depois, para o DHPP, onde fiquei por oito anos e aprendi muito.
JC - Chegou a participar de algum caso de repercussão?
Priscila - Sim, o do Pimenta Neves, que era diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo e matou a tiros a ex-namorada (a jornalista Sandra Gomide, em 2000). Eu tinha 22 anos e era investigadora no DHPP. Fiz muitas escoltas dele, que foram registradas pela imprensa. Na época, chegou a sair matéria de que ele tinha, inconscientemente, projetado em mim a imagem da Sandra. Também fiz escolta do Sombra (Sérgio Gomes da Silva), suspeito de ser o mandante do assassinato do prefeito (de Santo André, em 2002) Celso Daniel. Tive uma experiência muito rica no DHPP.
JC - Em que momento decidiu tornar-se delegada?
Priscila - Quando passei no concurso como investigadora, eu já estava fazendo faculdade de direito, porque meu sonho era ser delegada. Em 2005, fui fazer curso preparatório e passei no concurso em 2006. Tomei posse em 2007 na Academia. Lá, aprendi muito e fiz muitos amigos. Quando me formei, fui para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), trabalhar em Distritos Policiais, como o do Limão, do Carandiru.
JC - Quando decidiu mudar-se para Bauru?
Priscila - Meu marido era tenente e queria vir embora para o Interior, porque ele era de Assis. A Eduarda já estava com um ano e seria mais fácil criá-la em uma cidade mais calma. Conhecemos Bauru, gostamos e ele veio em 2010 e eu, em 2011. Fui atuar como delegada assistente da DDM e, depois de um ano, me tornei titular. Fiquei lá por nove anos e foi um divisor de águas na minha carreira. A DDM é uma delegacia que, além da repressão ao crime, tem um papel social, de proteção de mulheres, crianças e adolescentes, que precisam de uma rede de assistência porque têm um histórico de sofrimento e, às vezes, correm risco de vida.
JC - Por qual motivo acabou saindo da DDM?
Priscila - Senti necessidade de ter novos desafios. Passei a ser titular do 1.º DP, dentro da Central de Polícia Judiciária, em 2020. Fiquei lá por quase um ano e aceitei o convite do doutor Luciano (Faro) para ser assistente da Delegacia Seccional. Hoje, coordeno o cartório criminal da Seccional, que atua em casos em que os averiguados são políticos, em 19 municípios da região. Trabalho também no Centro de Inteligência, que faz análise de dados, planejamento de operações e dá suporte a todas as unidades da sub-região. E sou coordenadora da comunicação social da Seccional e do Cartório Central, que faz as correições. Tem sido um trabalho muito gratificante.
JC - Você ficou viúva muito jovem. Como enfrentou todo este processo?
Priscila - O melhor momento da minha vida foi o nascimento da minha filha e o pior, a morte do Eduardo, em 2017. Ele teve uma doença autoimune, colangite esclerosante primária, que ataca o fígado. Precisava de transplante, não conseguiu e sobreveio um câncer no fígado. Foram três anos e ele organizou tudo, deixou vídeos para a Eduarda, preparou toda a documentação e fez o testamento vital sobre como gostaria ser tratado no fim da vida. Ele, mesmo doente, me deu muita força e me ensinou a viver o agora. Conhecemos os cuidados paliativos nos quatro últimos meses de vida dele e, depois que ele morreu, o primo dele, Tom Almeida, o doutor (José Roberto) Ortega, paliativista, e eu fizemos, por dois anos, a Jornada Eduardo Alferes, para falar sobre o assunto.
JC - Quais são os planos para o futuro?
Priscila - Vou fazer 29 anos de polícia e já tenho tempo para aposentar, mas quero seguir atuando na Seccional. E, no ano que vem, começo a fazer faculdade de gastronomia. Adoro cozinhar, principalmente comida italiana, e, quando me aposentar e minha filha já estiver maior de idade, quero trabalhar nesta área. Cozinho desde os 13 anos, meus amigos e minha família elogiam muito e, para mim, é uma terapia. Na polícia, a gente vê um lado muito dolorido da sociedade e, quando me aposentar, quero trabalhar com algo voltado ao prazer das pessoas. Sou uma pessoa ativa e não quero parar de trabalhar.
Priscila com os pais, Manoel e Ione, e a filha, Eduarda
"Eu me sinto completa porque consegui atuar um pouco em cada esfera da polícia". Este é o balanço que a delegada Priscila Bianchini de Assunção Alferes, 46 anos, faz de suas quase três décadas de carreira como policial. Inspirada no pai, Manoel, capitão aposentado, ela ingressou, aos 18 anos, na Polícia Militar, onde atuou no Batalhão de Choque, em São Paulo, cidade em que nasceu.
Pouco depois, tornou-se investigadora da Polícia Civil e trabalhou no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), lidando, inclusive, com casos de repercussão nacional. Já como delegada, casada com o tenente Eduardo Henrique Alferes e mãe de Eduarda, veio morar com a família em Bauru.
Na cidade, foi titular da Delegacia de Defesa da Mulher, até migrar definitivamente para a esfera administrativa, como delegada assistente da Delegacia Seccional de Bauru, que abrange 19 municípios. Lá, coordena investigações sobre crimes envolvendo políticos e atua no Centro de Inteligência da Polícia Civil, entre outras atividades.
É, ainda, coautora do livro "Lei Maria da Penha explicada", escrito em parceria com o delegado Eron Veríssimo Gimenes e Eduardo. A obra foi lançada em 2016, um ano antes de Priscila perder o marido para uma doença autoimune, que provocou um câncer. Nesta entrevista, ela revisita sua trajetória, relembra o momento mais difícil de sua vida e revela planos para o futuro dentro do universo da gastronomia. Leia os principais trechos.
JC - A escolha pela carreira policial foi inspirada no seu pai?
Priscila - Sim. Primeiro, fui policial militar. Estudei em colégio militar e, com 18 anos, ingressei na PM, como soldado, em São Paulo. Trabalhei no Copom, no Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e no Canil da PM. Após quatro anos, passei no concurso da Polícia Civil, como investigadora. Fui para a Academia de Polícia Civil em 1999. Quando terminei, fui para o extinto Departamento do Consumidor e, depois, para o DHPP, onde fiquei por oito anos e aprendi muito.
JC - Chegou a participar de algum caso de repercussão?
Priscila - Sim, o do Pimenta Neves, que era diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo e matou a tiros a ex-namorada (a jornalista Sandra Gomide, em 2000). Eu tinha 22 anos e era investigadora no DHPP. Fiz muitas escoltas dele, que foram registradas pela imprensa. Na época, chegou a sair matéria de que ele tinha, inconscientemente, projetado em mim a imagem da Sandra. Também fiz escolta do Sombra (Sérgio Gomes da Silva), suspeito de ser o mandante do assassinato do prefeito (de Santo André, em 2002) Celso Daniel. Tive uma experiência muito rica no DHPP.
JC - Em que momento decidiu tornar-se delegada?
Priscila - Quando passei no concurso como investigadora, eu já estava fazendo faculdade de direito, porque meu sonho era ser delegada. Em 2005, fui fazer curso preparatório e passei no concurso em 2006. Tomei posse em 2007 na Academia. Lá, aprendi muito e fiz muitos amigos. Quando me formei, fui para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), trabalhar em Distritos Policiais, como o do Limão, do Carandiru.
JC - Quando decidiu mudar-se para Bauru?
Priscila - Meu marido era tenente e queria vir embora para o Interior, porque ele era de Assis. A Eduarda já estava com um ano e seria mais fácil criá-la em uma cidade mais calma. Conhecemos Bauru, gostamos e ele veio em 2010 e eu, em 2011. Fui atuar como delegada assistente da DDM e, depois de um ano, me tornei titular. Fiquei lá por nove anos e foi um divisor de águas na minha carreira. A DDM é uma delegacia que, além da repressão ao crime, tem um papel social, de proteção de mulheres, crianças e adolescentes, que precisam de uma rede de assistência porque têm um histórico de sofrimento e, às vezes, correm risco de vida.
JC - Por qual motivo acabou saindo da DDM?
Priscila - Senti necessidade de ter novos desafios. Passei a ser titular do 1.º DP, dentro da Central de Polícia Judiciária, em 2020. Fiquei lá por quase um ano e aceitei o convite do doutor Luciano (Faro) para ser assistente da Delegacia Seccional. Hoje, coordeno o cartório criminal da Seccional, que atua em casos em que os averiguados são políticos, em 19 municípios da região. Trabalho também no Centro de Inteligência, que faz análise de dados, planejamento de operações e dá suporte a todas as unidades da sub-região. E sou coordenadora da comunicação social da Seccional e do Cartório Central, que faz as correições. Tem sido um trabalho muito gratificante.
JC - Você ficou viúva muito jovem. Como enfrentou todo este processo?
Priscila - O melhor momento da minha vida foi o nascimento da minha filha e o pior, a morte do Eduardo, em 2017. Ele teve uma doença autoimune, colangite esclerosante primária, que ataca o fígado. Precisava de transplante, não conseguiu e sobreveio um câncer no fígado. Foram três anos e ele organizou tudo, deixou vídeos para a Eduarda, preparou toda a documentação e fez o testamento vital sobre como gostaria ser tratado no fim da vida. Ele, mesmo doente, me deu muita força e me ensinou a viver o agora. Conhecemos os cuidados paliativos nos quatro últimos meses de vida dele e, depois que ele morreu, o primo dele, Tom Almeida, o doutor (José Roberto) Ortega, paliativista, e eu fizemos, por dois anos, a Jornada Eduardo Alferes, para falar sobre o assunto.
JC - Quais são os planos para o futuro?
Priscila - Vou fazer 29 anos de polícia e já tenho tempo para aposentar, mas quero seguir atuando na Seccional. E, no ano que vem, começo a fazer faculdade de gastronomia. Adoro cozinhar, principalmente comida italiana, e, quando me aposentar e minha filha já estiver maior de idade, quero trabalhar nesta área. Cozinho desde os 13 anos, meus amigos e minha família elogiam muito e, para mim, é uma terapia. Na polícia, a gente vê um lado muito dolorido da sociedade e, quando me aposentar, quero trabalhar com algo voltado ao prazer das pessoas. Sou uma pessoa ativa e não quero parar de trabalhar.
Priscila com os pais, Manoel e Ione, e a filha, Eduarda
Quer receber as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp? Faça parte da comunidade JCNET/Sampi e fique sabendo de tudo em tempo real. É totalmente gratuito! Abra o QR Code.
Participe da ComunidadeQuer receber as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp? Faça parte da comunidade JCNET/Sampi e fique sabendo de tudo em tempo real. É totalmente gratuito!
Participe da ComunidadeTV

#EDIÇÃO_616 - 28/11/2023

COMENTÁRIOS
A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.
Ainda não é assinante?
Clique aqui para fazer a assinatura e liberar os comentários no site.