26 de dezembro de 2024
LEVANTAMENTO

Idade média em São Paulo sobe para 70,2 anos em quase 2 décadas

Por Lucas Lacerda | da Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min
Joédson Alves/Agência Brasil
Segundo o painel, os piores indicadores de idade média ao morrer estão nas franjas da zona leste e norte da capital

O indicador de idade média ao morrer entre dois extremos de São Paulo continua praticamente no mesmo patamar desde 2006, indica um novo levantamento divulgado nesta quarta (27).

No ano passado, a idade verificada em Anhanguera, na zona norte de São Paulo, era de 58 anos. Já em Alto de Pinheiros, distrito em área nobre da parte oeste da cidade, o indicador chegava a 82 anos. Uma diferença de 24 anos, portanto. Em 2006, essa diferença era de 21 anos -Alto de Pinheiros tinha idade média de 75 anos, contra 54 anos de Anhanguera.

A idade média da cidade subiu de 64 para 70,2 anos nesse intervalo.

Se as condições atuais de saúde e qualidade de vida se mantiverem as mesmas, os moradores de Anhanguera só vão atingir a atual longevidade do Alto de Pinheiros em 2065. Além de identificar gargalos, o indicador aponta a manutenção da desigualdade entre distritos da cidade.

Os dados são da nova edição do Mapa da Desigualdade de São Paulo, divulgado nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Cidades Sustentáveis e pela Rede Nossa São Paulo. Segundo o painel, os piores indicadores de idade média ao morrer estão nas franjas da zona leste e norte, em grande parte da zona sul e também em distritos mais centrais, como a Sé e o Brás, com 60 e 61 anos respectivamente.

Comparação semelhante foi registrada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) durante o Censo Demográfico de 2022, que identificou Alto de Pinheiros como o distrito mais idoso-e branco- de São Paulo, com 17% dos seus moradores com mais de 70 anos.

O estudo apresenta o desempenho dos distritos em dez temas, que abrigam um ou mais indicadores. Já os dados de habitação mostram a proporção estimada de domicílios em favelas em relação ao total de domicílios dos distritos. Áreas como Alto de Pinheiros, Perdizes, Jardim Paulista, República, Cambuci e Bom Retiro não registraram esses domicílios, segundo dados da Secretaria Municipal de Habitação. As maiores parcelas estão na Vila Andrade (35,4%), na Brasilândia (24,7%) e em Sacomã (23,5%).

Para o coordenador de relações institucionais do Instituto Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo, Igor Pantoja, o indicador de idade média ao morrer é central para medir as desigualdades na cidade. "Os fatores que contribuem para diminuir uma idade média ao morrer são, por exemplo, mortalidade infantil e homicídio entre jovens, pensando em populações mais novas, que têm um peso maior."

Mas outras informações também ajudam a compor o índice, como o acesso a saúde e boa infraestrutura. "Além, claro, do desgaste de quem mora a duas horas e meia de transporte público do centro", completa.

No caso da mobilidade, o dado apresentado é o tempo médio de deslocamento por transporte público no pico da manhã. Pinheiros, na zona oeste, tem a menor marca da cidade, com 25 minutos. Já Marsilac, no extremo sul paulistano, chega a 71 minutos. As outras duas piores marcas estão em Cidades Tiradentes, no leste da cidade, com 66 minutos, e Parelheiros, também no sul, com 62 minutos.

O acesso à internet móvel, calculado pelo número de antenas divididos pela área de cada distrito, mostra uma concentração em uma pequena área no centro da cidade. Dos 96 distritos, 77 estão com o pior indicador, que vai de 0,09 a 11,03 antenas por km².

A proporção de equipamentos municipais de cultura por 100 mil habitantes também mostra uma situação que vem de anos atrás, como a ausência em distritos como Vila Medeiros, Vila Matilde, Cidade Dutra, Iguatemi e Pedreira, e a concentração na República (24,1%), no Butantã (18,7%) e na Sé (18,4%).

A situação já havia sido verificada em outros anos em locais como Ponte Rasa, com Marsilac no fim da lista. "É uma das coisas que queremos destacar, tendo em vista que o ano que vem é o primeiro de uma nova gestão, com planejamento e programa de metas, para saber quais são as propostas concretas para realmente reduzir desigualdades", diz Pantoja.

Para ele, não basta aumentar o orçamento e anunciar gastos em setores específicos -cultura, esporte ou transporte- sem conhecer os problemas cotidianos dos territórios. "Se uma pessoa que mora em Cidade Tiradentes morre mais cedo, não é porque ela mora lá. É porque pode ter menos equipamento de saúde, menos emprego e ela tem que se deslocar mais, tem mortalidade infantil por causa de situações precárias de moradia."