22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Artigo de Ayne Salviano: Sobre a Esperança

Por Ayne Salviano | Especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 3 min
Imagem ilustrativa IA GPT-4
A esperança é o sentimento que move a humanidade em busca de dias melhores; uma força que resiste ao desespero e transforma vidas

“I have a dream”, disse o pastor e ativista político estadunidense Martin Luther King no início do seu discurso histórico no dia 28 de agosto de 1963, no Lincon Memorial durante a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade. A frase é entendida, até hoje, em todos os países, como um sinal de esperança por um mundo sem preconceito e mais justo.
Esperança. A palavra que move milhões de pessoas no mundo todos os dias. E o sentimento que, quando falta, pode até matar. Há muita desesperança no ar, é preciso mudar esse cenário.

Há uma história mitológica sobre a Esperança. A mitologia grega conta que os irmãos Prometeu e Epimeteu criaram todos os animais, inclusive o Homem. Para cada animal, deram um poder, como voar, nadar, caçar, ter garras ou dentes afi ados.

O humano, por ser o último a ser feito, fi cou sem nada. Então Prometeu roubou o fogo do conhecimento dos deuses, ensinou muitas coisas aos homens e enfureceu Zeus, que se vingou do titã e da sua criação.

Prometeu foi acorrentado a uma montanha e, todos os dias, uma ave vinha comer o seu fígado, que se regenerava a cada noite. E para castigar os homens, Zeus criou Pandora, a mulher de todos os dons.

Pandora foi enviada como um presente para Epimeteu, que logo se apaixonou. Ela entregou-lhe uma encomenda de Zeus, uma caixa (que era um jarro), que o marido pediu para não abrir. Mas, Pandora não resistiu.

Ao abrir, Pandora liberou todos os males do mundo, fome, guerra, doenças... Ela até tentou fechar a caixa, mas só conseguiu prender nela, a esperança.

A esperança, então, é tudo o que a humanidade tem guardado. É a promessa de felicidade futura. Agora não estamos bem, mas no futuro ficaremos. Agora não estamos felizes, mas no futuro ficaremos.

É com esse pensamento de esperança que afastamos suplícios e vivemos na expectativa de dias melhores. Afastando do pensamento o mal a todo instante, tornamos a vida algo suportável. Hoje não deu, mas amanhã será melhor. Hoje não consegui, mas amanhã terei uma nova chance.

Na doença, é a esperança que mantém muitos pacientes vivos. A medicina não explica, mas a esperança de recuperação pode até curar.

Relatos de socorristas que trabalharam em tragédias dão conta de resgates quase impossíveis, mas que aconteceram porque as vítimas sobreviveram a condições inóspitas unicamente pela esperança.

Profissionais da área da saúde mental são enfáticos em afirmarem sobre a necessidade de despertar a esperança naqueles que estão tão cansados e sofridos. Mas como ter e cultivar a esperança? No livro Born to Be Good: The Science of a Meaningful Life, do professor da Universidade de Berkeley, Dacher Keltner, ele dá algumas pistas do ponto de vista neuropsicológico: pensar a curto prazo para não gerar ansiedade; encontrar signifi cado para as pequenas coisas do dia a dia; e parar de revisitar o passado.

Para Keltner, a esperança não está no passado, que já passou. Nem pode estar em um futuro distante, caso contrário não é motivadora. A esperança precisa estar nos fatos do cotidiano e num futuro próximo para alimentar o sentido da vida.

Estudiosos da Psicologia também revisitam periodicamente o que se sabe sobre a esperança. Eles já descobriram que ela não é algo que surge de repente, do nada, pelo contrário, precisa ser cultivada e fortalecida ao longo do tempo. 
Entre as estratégias que podem ajudar está a mentalidade positiva, quando o indivíduo foca suas energias nos aspectos positivos da vida, mesmo quando as coisas não estão indo bem. Também é importante cercar-se de pessoas positivas. Outra estratégia é praticar a gratidão.

Agradecer pelas coisas boas, desde as mais simples, e valorizar o que se tem. Isso aumenta a esperança de conseguir objetivos maiores e melhores. A esperança, portanto, não é apenas um sentimento, é também uma poderosa ferramenta de transformação. Além disso, também pode ser contagiosa. Precisamos experimentar, diariamente.

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, especialista em Metodologia Didática, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA Internacional em Gestão