Bela é a vida! Valiosa, então, quando se convence de que há um sublime escopo para a existência humana! A imortalidade é aspiração inata à alma humana! A morte como fim absoluto agride a razão e fere a dignidade do ser humano. A fé cristã confirma essa inata e difusa intuição! Professa o cristão que terminada a jornada na terra, o ser humano passa a partilhar a glória divina.
Ao contrário do que alguns pensadores defendem, a certeza da vida após a morte não aliena o ser humano. A experiência cotidiana ensina que sempre existe alguém a quem o ser humano não quer decepcionar. A fé e o amor ao Criador, que a mística define como temor de Deus, induz o crente a querer sempre viver seguindo a vontade divina. Sabe todo batizado que a vontade suprema do Criador é ver estabelecida entre os seres humanos o reino de justiça, um convívio solidário. Essa lei encontra sua pragmática expressão na conhecida Regra de Ouro que motiva o crente a tratar o outro da mesma maneira como deseja ser por ele tratado. A certeza, pois, deste futuro e definitivo encontro pessoal com o Criador convence o crente a empenhar-se em fazer da sua peregrinação na terra um armazém de boas escolhas. Nem cogita apresentar-se diante do Criador de mãos vazias! Ninguém nasce santo ou demônio! São as escolhas que são feitas durante a existência que definem o ser, a personalidade e o caráter do indivíduo. Está nas mãos de cada cidadão transformar a própria vida e a vida com quem convive num céu ou num inferno! O consciente crente quer ir saltitante ao encontro com o Autor da Vida com seu bornal transbordando de sementes do bem!
Emerge detalhe outro valioso. Em sendo cada sujeito único e irrepetível, o uso que faz do tempo à disposição é de extrema significância. A consciência da transitoriedade da vida impõe urgência em traduzir em obras as escolhas aspiradas. Não há tempo a perder em fazer o bem. Intui-se que o que mais importa não é tanto a longevidade dos anos, mas o uso que se faz do tempo à disposição! Vida plena não se mede pela quantidade de dias, mas, sim, pela fecundidade das escolhas! A caridade não admite postergações. As intuições que surgem para fazer o bem não podem ser desperdiçadas nem deixadas para outra hora, sob o risco de perder preciosas oportunidades. Valiosas benfeitorias se perdem por levianos adiamentos.
A certeza na dimensão eterna da vida valoriza a individualidade de cada ser humano, educa-o a sublimar o tempo, o induz a prezar e a promover a existência do próximo! Agradecido por tão sublime dom, o cidadão consciente passa pela vida fazendo o bem. O crente, por sua vez, aspira apresentar a seu Criador seu celeiro repleto de sementes do bem. Razão e fé interpelam o inquieto cético! O fim não pode ser o nada! Razão e fé se complementam na valorização da vida, no tempo e na eternidade! O fim é a alegria da páscoa pessoal!
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba.