O programa Fantástico, da Rede Globo, exibido no último domingo, dia 20, exibiu uma reportagem de como a Finlândia está vencendo as fake news.
A Finlândia é um país europeu com população aproximada de 5,5 milhões de habitantes. Seu território é um dos mais densamente florestados da Europa ao mesmo tempo que a nação é altamente industrializada, com produção de equipamentos tecnológicos e eletrônicos. Mas é o setor terciário, de serviços, que responde pela maior parcela da economia.
Lá, todo o ensino é público e gratuito. O índice de alfabetização é de 99% da população. E é nas escolas que o governo implantou, desde as séries iniciais, a partir dos 5 anos, a educação midiática, usando os meios de comunicação para ensinar as pessoas a não serem enganadas.
Na reportagem, as primeiras imagens são de uma professora de pré-escola, que ensina as crianças a desconfiarem de informações que não coincidem com o que elas aprendem na escola.
O exemplo é um coelho voador. A professora estimula o pensamento com perguntas: alguém já viu um coelho voador de verdade? Conhecem alguém que já pegou um na mão e pode provar que eles existem? Sabem de algum lugar onde possamos encontrar um? E, dessa forma, as crianças vão confirmando as informações verdadeiras.
Em um segundo momento, o repórter tenta enganar um adolescente com uma fake news. Mostra a ele, no celular, uma manchete que afirma que a ativista pelo meio ambiente, Greta Thunberg, exige que as bombas lançadas nas guerras sejam veganas. O adolescente, prontamente, afirma que Greta não incentivaria as guerras e que é um absurdo pensar em bombas veganas porque isso não faz sentido.
Por fim, a entrevistada é uma idosa de quase 90 anos. Segundo o jornalista, “ela se recusa a ser a ‘tia do zap’”. A senhora, que está em uma biblioteca, ensina que é preciso estar bem-informada para não reproduzir bobagens. Por isso, ela gosta de ler, assistir ao noticiário e sempre checar se as mensagens que recebe são verdadeiras antes de encaminhar para outras pessoas.
Há muitos anos essa política de educação midiática faz parte do cotidiano da Finlândia. E se ela começa pela escola, esse não é o único ambiente em que o programa contra as fake news acontece.
Há uma abordagem inclusiva para toda a sociedade. Um grande número de diferentes organizações participa do programa de aprendizagem pela mídia, com a mídia e para a mídia. Estão envolvidos outros departamentos governamentais, bibliotecas, universidades e, especialmente, ONGs.
O Brasil, no entanto, engatinha na Educação Midiática. Embora já existam cursos de graduação para formar profissionais, várias ONGs e até um grande evento como a Semana Brasileira de Educação Midiática promovida pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República em parceria com o Ministério da Educação e a Unesco (Organização das Nações Unidades para a Educação e Cultura), a verdade é que ela ainda não é uma política pública, infelizmente.
A Finlândia ensina que apenas com a Educação Midiática a democracia de um país, por exemplo, está segura. E talvez por isso, no Brasil, ela é ainda tão incipiente. Fazer as pessoas pensarem amedronta lideranças que se mantém no poder justamente pela ignorância do povo.º
O fato é que sem educação midiática a democracia está em risco, mas o dia a dia do cidadão comum também. Por que será que os criminosos lucram tanto com golpes que seriam tão facilmente identificáveis se a população fosse estimulada a pensar e a desconfiar de ligações ou mensagens suspeitas nos seus celulares?
Para pensar: A quem interessa manter as pessoas sem educação midiática? A quem interessa manter os crimes na internet, dos golpes econômicos à pedofilia? A quem interessa desinformar a população por meio de fake news? A quem interessa estimular a violência dos discursos de ódio que culminam em atos de violência reais? A quem interessa desestabilizar governos?
Por uma Educação Midiática já!
Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista. Especialista em Metodologia Didática, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA Internacional em Gestão Executiva.