Trump recebeu um escapulário! No último dia 18 de setembro, o candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido Republicano, Donald Trump, recebeu num ritual sumário, gravado em vídeo, um escapulário carmelitano. O reverendo que fez a bênção e a entrega confirmou o registro. A imprensa católica questiona o ritual, uma vez que Trump não segue a religião católica. Atiçados pelo piedoso gesto do frade carmelitano, muitos perguntam o significado da peça religiosa e a razão de seu uso.
O original “escapulário” é uma peça do vestuário usado por monges/monjas. É uma espécie de cumprido avental colocado sobre o hábito monástico cobrindo peito e costas. Com o tempo, passou também a identificar o carisma da ordem a qual o monge pertencia. Razão porque encontram-se escapulários de várias cores. A vida monástica, dedicada preferencialmente à oração e a trabalhos, tanto manuais como pastorais, sempre exercitou um fascínio sobre os fiéis. Muitos, no entanto, não se sentiam vocacionados à vida monástica. O sincero desejo de aderir, na condição de leigos, ao carisma de uma determinada ordem monástica, fez surgir, principalmente no começo da Idade Média, as confrarias, grupos de fiéis leigos e leigas, que assumiam obrigações piedosas e pastorais, em sintonia com a espiritualidade de uma específica ordem religiosa. Como forma de destacar exteriormente a filiação, elaborou-se a confecção de um mini escapulário, constituído de duas pequenas peças retangulares, originariamente feitas de lã, com as cores, símbolos e brasão da ordem monástica, presas com fitas ou barbantes, a ser vestido sobre os ombros, com uma peça sobre o peito e a outra nas costas. A investidura com o escapulário sinaliza, portanto, o compromisso do usuário de viver, de acordo com seu estado de vida, a espiritualidade daquela ordem específica como também de colaborar com sua ação pastoral. Compreensivelmente, a investidura é acompanhada com uma oração de bênção e consagração. Impulsionado pela piedade popular, o uso do escapulário foi se expandindo aleatoriamente, passando, inclusive, a dar preferência à imagem de santos.º
Lamenta-se que, com o passar do tempo, e sob o impacto de interesses comerciais, a singela mística que envolve o uso do escapulário evaporou-se. Muitos veem, e vestem, o escapulário como amuleto, peça com poderes especiais para proteger contra desgraças, doenças ou maus olhares. A superstição e a desinformação descaracterizam por completo o inspirador e salutar uso do escapulário. É hora de resgatar o reverente e envolvente uso da peça religiosa. Quem se propõe a vestir o escapulário, que o faça movido principalmente pela piedosa inspiração de reproduzir em sua vida as virtudes que ele anuncia e simboliza. Escapulário não é amuleto. É indicativo sensível de adesão a uma particular escola de vivência espiritual. Curiosidade final: não se sabe que uso Trump faz do escapulário recebido!
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba