23 de novembro de 2024
CRÔNICA

Apenas uma praça


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Não tinha dessas modernidades que hoje ocupam o espaço público como um circo, no qual se dá pão ao povo. Aqui em Araçatuba, projeto geral de restauração das praças chama-se “revitalização” e até faz sentido, pois estes lugares estão moribundos, senão já mortos devido ao abandono contumaz(êpa!). Então a Secretaria de Obras troca o belo piso original de pedras portuguesas por chão de concreto; substitui bucólicos postes de globinho redondo por luminárias de alumínio de lâmpada fria, dessas de escritório de contabilidade; arrancam (isso, arrancam) árvores centenárias, porque fazem sombra e atraem pássaros, e as substituem por mudas pífias de qualquer planta, que levarão 20 anos para terem robustez e serem sacrificadas; retiram os confortáveis antigos bancos de concreto arredondados no assento e no encosto e não colocam nada em seu lugar para não atrair mendigos que neles dormiriam; retiram as simpáticas lixeiras e as trocam por latões que irão enferrujar e serem substituídos por outros que também enferrujarão...

Mas não para aí, porque arrasam os canteiros de grama e flores para instalar quadra poliesportiva ou pista de skate, enquanto logo ali destinam boa área para o “espaço gourmet”, com bancas vendendo comida de rua e sanduíches suspeitos. De noite, os vândalos comparecem e assumem!

Praça para valer é simplesmente praça com bastante área verde, caminhos para caminhar, mobiliário adequado; muitos bancos para sentar, descansar e contemplar; sanitários, lixeiras, iluminação e segurança. Espaço urbano público sem edificações e de livre circulação de pessoas, preferencialmente localizado em bairros para proporcionar convergência e convivência social. Os frequentadores locais garantem a integridade.

Na Grécia antiga a praça (ágora) era um espaço público criado com o objetivo de reunir cidadãos livres para conversar e debater(ôpa!) ideias. Em Roma era “platea”(no Latim) ou pátio, em cujos lugares se concentravam patrícios e sua audiência, a dita plateia. No período colonial brasileiro a Igreja Católica criava espaços ao redor das igrejas para congraçamento dos fiéis... Bom mesmo quando a praça não passava de um lugar aprazível, agradável e de paz, onde as pessoas podiam simplesmente desfrutar. Parecida com a antiga praça Getúlio Vargas dos anos 1950/1960...

PS: foto do acervo de Jackson Firmino com a namorada na própria praça, em 1961, com figuração do imponente IE Manoel Bento da Cruz ao fundo, quase de perfil.

Jeremias Alves Pereira Filho, sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.