23 de novembro de 2024
Opinião

Caput Libri


| Tempo de leitura: 2 min


Evangelho não é papel! Evangelho é pessoa, Jesus Cristo! Bíblia não é livro! Bíblia é o Verbo divino encarnado em forma de Escritura! Na celebre caminhada entre Jerusalém e Emaús, explicitamente Jesus afirma que é dele que falam todos os profetas. O contato com a Palavra escrita se transforma em vivificante quando resulta em encontro pessoal com o Filho de Deus encarnado. Jesus é o Evangelho!
É no convívio que se conhecem as pessoas! Com relação a Jesus aplica-se o mesmo critério. No seu tempo, ele se esforçava sobremaneira para encorajar seus conterrâneos a ajustarem suas lentes de leitura. Seus concidadãos nazarenos imaginavam conhece-lo porque acompanharam sua adolescência na diminuta comunidade de Nazaré. O esforço empenhado por Jesus em induzir seus conterrâneos a um salto de qualidade na sua leitura abrindo-se à inspiração do Espírito divino permanece válido até o dia de hoje. O Espírito é que torna Jesus vivo e vivificante, a letra mata! Como outrora em Nazaré, muitos contemporâneos insistem em imaginar conhecer Jesus escudados apenas em critérios humanos, consultando dados exclusivamente acadêmicos. Por mais valiosos que sejam esses estudos, importa reconhecer tratar-se de alguém gerado por obra do Espírito Santo. Consequentemente, somente sob a orientação do mesmo Espírito é que se pode aspirar chegar à sua verdadeira identidade. É preciso crer para entender! Quem pretende primeiro entender, nunca chegará à verdadeira fé. Somente o Espírito é que dá vida.
A mesma chave de leitura se aplica a quem deseja definir a identidade da missão do Filho de Deus feito carne. E, consequentemente, especificar o critério para aproximar-se dele. Em sua passagem pela Palestina, Jesus, energicamente, recusa a fama de taumaturgo. Não quer ser procurado porque dá pão de graça. Há outro alimento necessário além do pão material. Verdadeiros milagres acontecem quando as pessoas se interessam candidamente pelo bem estar do semelhante e se dispõem a colocar suas aptidões a serviço do irmão. O espetáculo não está na mirabolante transformação, mas na consciente e generosa opção de servir na caridade.
Emblemática, e urgente chave de leitura, é a cena da última ceia quando Jesus – a Palavra encarnada – se ajoelha diante de seus discípulos e lhes lava os pés. Ato continuo, certamente levando em mente todos que viriam a conhecer o episódio, provoca intencionalmente e indaga: entenderam? Para não deixar dúvidas, ele mesmo emenda: vocês também devem fazer o mesmo! Em sua pessoa, Jesus é o “caput libri”, o começo e o resumo da Palavra. Interpeladora e provocadora é a observação dos primitivos autores cristãos ao registrar que somente uma vez Jesus é reportado lendo as sagradas escrituras. A Palavra, afinal, era ELE. O Evangelho não é papel. É pessoa! É Jesus!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba