06 de outubro de 2024
OPINIÃO

Concurso Nacional Unificado

Por Ayne Salviano | especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 3 min

O Concurso Nacional Unificado (CNU), popularmente conhecido como o “Enem dos Concursos”, foi aplicado pela primeira vez no domingo passado (dia 18) em 228 cidades de todas as regiões do país. 
Cerca de 1 milhão de brasileiros participaram da prova e estão concorrendo a aproximadamente 6,6 mil vagas em diversos órgãos públicos. Os salários variam de R$ 3,9 mil a R$ 23,5 mil. O resultado será divulgado em outubro.

O modelo adotado pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviço Público se mostrou um instrumento democrático e de qualidade para selecionar novos servidores.

Democrático porque o valor da inscrição de 90 reais foi acessível e centenas de candidatos se beneficiaram das políticas públicas que garantiram a isenção do pagamento. De qualidade porque colocou fim na necessidade de decorar fórmulas prontas de disciplinas ultrapassadas e valorizou o conhecimento de mundo e o senso crítico dos candidatos.

As provas foram divididas em sete blocos, por área de formação e de interesse dos candidatos. A banca Cesgranrio elaborou 36 versões diferentes de avaliações. Todas tinham 20 questões de conhecimentos gerais e outras 50 questões de conhecimentos específicos, sendo 10 de cada um dos cinco eixos temáticos. Eram questões objetivas e de múltipla escolha.

Havia perguntas fáceis, medianas e difíceis. No geral, as questões focaram nas leis e no respeito aos direitos humanos. Muitas abordaram temas polêmicos, como o sistema prisional, os indígenas, a preservação do meio ambiente, entre outros. Prevaleceu a capacidade de analisar, ponderar e externar um senso crítico em prol da coletividade.

Todos também escreveram uma redação, entre 35 e 40 linhas, sobre temas relevantes para a sociedade e que, ainda hoje, são polêmicos, como a questão da letalidade do sistema prisional, a questão do gerenciamento de dados, as mudanças climáticas e agricultura, entre outros.

Os problemas relevantes relatados após a aplicação do concurso são sobre a falta de treinamento dos fiscais, responsabilidade da Cesgranrio, e a inabilidade de alguns concurseiros de cumprir as orientações da prova, como assinar o caderno de questões, assinalar o número da prova no gabarito, entre outros.

Tanto o edital como as orientações da prova deixavam todas essas informações muito claras, por isso os organizadores do concurso já avisaram que os candidatos que descumpriram as orientações estão automaticamente desclassificados. Justo.

Os cadernos de provas e os gabaritos já podem ser encontrados na internet. Os candidatos que acertaram mais que 40% da prova, agora aguardam a correção das redações para saber a classificação.

Essa primeira edição do CNU mostrou que, nesse formato, os concursos públicos estão acessíveis a todos. Se o governo federal mantiver esse modelo de avaliação, deverá acontecer um aumento significativo de interessados para cargos que remuneram bem e garantem estabilidade.

Numa era em que a precarização do trabalho é uma preocupação mundial e a palavra “empreendedorismo” muitas vezes é usada para mascarar a carência/ausência de direitos trabalhistas garantidos, o brasileiro deve, sim, voltar a estudar e se preparar para os próximos concursos públicos. Bons estudos a todos!

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, especialista em Metodologia Didática, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA Internacional em Gestão Executiva.