21 de novembro de 2024
CRÔNICA

Subacada

Por Jeremias Alves Pereira Filho | especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 2 min

Parece um palavrão, mas não é. Deve ter origem na palavra “sovaco”, parte do corpo humano que se situa entre o braço, junto ao ombro, e o tórax, que o erudito chama de axila. Trata-se de um pedaço de carne flexível, não musculosa, coberta de fina camada de pele e com fios de cabelo organizados meticulosamente pela natureza. Parece não ter muita utilidade, mas tem, pois permite fazer amplos movimentos com os braços uma vez que todos temos duas axilas. As mulheres costumam depilar, mas nem sempre e as de maior potencial cabeludo ostentam sovacos com pelos consistentes. Os homens, em geral, deixam crescer pelos e parece que não se incomodam com isso.

Fato desagradável é que, por estar quase sempre “fechada” e portar temperatura acima da média do resto do corpo, a axila produz sudorese, o popular suor. Pessoas que praticam esportes ou exercem trabalho de esforço corporal têm acentuada sudorese, o que acontece até com o preguiçoso em dias de calorão. A tendência é o suor quente, com o passar das horas, causar sutil reação química tal como se fosse uma panelinha de água cozinhando pé de galinha. Cheira mal... As mulheres antigas vindas de Portugal na colonização usavam uma peça de borracha chamada “sovaco”, que amoldavam à axila para evitar sudorese. Dizem que essa é a verdadeira origem da palavra, que eu escamoteava(êpa!) do distraído leitor.

Não queria falar nada disso, pois a intenção era simplesmente identificar um aperitivo genuinamente nacional, criado por espontaneidade etílica de gente simples e trabalhadora. Operários da construção civil, por exemplo, que ficam mais de 8 horas diárias no batente duro, quase sempre a sol aberto. Na hora do almoço ou na saída do serviço, como de hábito, muitos se reúnem no boteco mais perto da obra para tomar uma pinguinha, embora nem todos aptos à força do aguardente.

De trago em trago o aperitivo foi se aperfeiçoando até chegar num ponto de sofisticação similar aos coquetéis dos elegantes bares da vida. Então, sem mais delongas, passo a receita e o modo de fazer. Pegar um copinho desses pequenos, de vidro, e servir uma dose generosa de pinga branca, que também pode ser a amarela. Reservar no balcão e ao alcance das mãos uma porção de sal na medida de uma colher de café e limão Tahiti, cortado ao meio no ato preparatório. E agora, como beber! Despejar o sal na base da boca e reter. Imediatamente após, raspar o meio limão com a arcada inferior da dentadura e misturar com o sal. Prontamente entornar o “shot” de pinga e engolir num só gole. Isso aí é a tal da subacada! Esquenta e faz suar. Gostou? Tome duas para ver o que sucede...

Jeremias Alves Pereira Filho
Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie. Araçatubense nato.