22 de dezembro de 2024
Crônica

Meu intercâmbio de inglês


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Aos 16 anos, em plena juventude, meu sonho era “fazer intercâmbio de inglês”, coisa que eu e boa parte da garotada do IE Manoel Bento da Cruz também queria. A concorrência, pois, era grande. Nunca pensei que teria condições de superar qualquer coleguinha de escola, todos mais competentes e desenvoltos no anglo-idioma, embora apto a  sobreviver pelas excelentes aulas da professora Esther e bom ouvido musical para curtir o rock do Elvis Presley, que gastava horas dublando como se fora o próprio.

Não era o suficiente e, então, passei a ler, em ordem alfabética, o dicionário que acompanhava a Enciclopédia Barsa da minha mãe, a professora Leonor. De tanto insistir, até que melhorei o suficiente para não morrer de fome, caso em home stay em qualquer cidade norte-americana conveniada com o AFS-American Field Service. O famoso programa consistia em enviar estudantes brasileiros para os USA e, em retribuição, recebê-los na mesma condição. Isto é, os meninos – ou meninas – brasileiros viajavam por conta própria para lá e os de lá para cá igualmente. A vantagem é que, de lado a lado, os conveniados passavam o ano letivo numa típica escola do interior e permaneciam  hospedados por conta em alguma “casa de família”, como se fossem eventuais filhos dos hospedeiros voluntários. Complicado, mas quase sempre tudo corria bem.

Em Araçatuba, para sorte minha, o AFS era presidido pelo pai do Luiz Cesar Gonçalves Bueno e Silva, o “Gordo”, meu coleguinha de classe do IE que, aliás, acabara de retornar dos Estados Unidos falando inglês como um papagaio norte-americano. Sorte porque me abriu a porta para o seu simpático pai, que fez de tudo para me aprovar. E Gordo, porque o Luiz Cesar, que efetivamente gordo não era, estava apenas um certo ponto acima do peso, o que hoje alguém chamaria de “sobrepeso”. Mas o Gordo nunca se incomodou com o carinhoso apelido que se iniciou, na verdade, como “bulyng”, que na época existia com outro nome. Tirava de letra com simpatia e bom humor, mas o apelido pegou e ficou.

Fato é que meu pai, o jornalista Jeremias, na ocasião presidente do Rotary Club, interferiu com a promessa de que eu deveria fazer o intercâmbio americano pelo Interact Club, facção juvenil daquela entidade, da qual eu já fazia parte. Considerei o argumento ponderável e desisti do certo confiante na promessa do incerto. Não fiz o programa do AFS e nem o do Interact...

 

Jeremias Alves Pereira Filho

Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.