22 de dezembro de 2025
INVESTIGAÇÃO

Médico suspeito de abandono de embriões se defende

Por Vitor Hugo Batista | da Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/ Facebook
Polícia resgatou material: clínica foi fechada por ele

 - O médico nigeriano Oluwatosin Tolulope Ajidahun, conhecido como Tosyn Lopes, 41, dono da clínica de reprodução humana Shiloh, na zona leste de São Paulo, nega as suspeitas de fraude e abandono de embriões em meio às investigações da Polícia Civil e do MPSP (Ministério Público de São Paulo).

"Não tenho nada a temer", disse Tosyn em entrevista exclusiva à Folha. "Não houve sumiço de nenhuma célula sequer, de nenhum embrião, óvulo ou espermatozoide. Não existe nenhuma conduta antiética da minha parte".

"Eu tenho quatro filhos. Trabalhei de manhã, de tarde e de noite para ajudar outros a terem seus filhos também. Eu não iria jogar o filho de ninguém no lixo. Eu tenho responsabilidade", afirmou.

No final de 2023, Tosyn se tornou suspeito por liderar um esquema de fraude em reembolso de planos de saúde, que chegaria a R$ 100 milhões, segundo a Polícia Civil.

Ele teve bens e passaportes bloqueados, e após duas tentativas de deixar o Brasil, a Justiça decretou sua prisão temporária. No entanto, Tosyn não foi encontrado a partir de então.

"Estou em Lagos, na Nigéria, cuidando do meu pai, que tem 80 anos. Ele passou por uma cirurgia de próstata. Perdi minha mãe há 17 anos e hoje só tenho ele. Eu já não o via há quase dez anos, então quis viajar para vê-lo. Tive que passar por quatro continentes para chegar aqui, porque não podia deixar ele sozinho nessa situação, mesmo com passaporte apreendido", afirmou.

Tosyn disse que tentou retornar ao Brasil, mas teve o pedido de passaporte negado pelo Consulado do Brasil, em Lagos. Como prova, ele mostrou um e-mail do Itamaraty de 2 de fevereiro deste ano, argumentando que "há registro da Polícia Federal para não concessão de passaporte".

"Eu quis voltar para o Brasil, mas a PF disse que não pode entrar. Se a PF não libera, como consigo voltar? Minha vida inteira está no Brasil e meu passaporte foi apreendido", afirmou.

O médico nigeriano chegou ao Brasil em 2013 e conseguiu sua naturalização em 2019. Ele tem registro médico ativo no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

No site da clínica onde atuava, ele afirma que teve o diploma revalidado pela UFF (Universidade Federal de Fluminense), mas a instituição diz que o pedido foi negado.

Após deixar o país, pacientes alegaram que Tosyn fechou a clínica sem dar satisfação sobre o material genético de dezenas de mulheres e casais que tentavam ter seus bebês com ele.

Explicação

O médico explica que fechou o local em razão do baixo faturamento da clínica. "Não estávamos faturando o suficiente para manter. Se eu não tivesse tomado a atitude humilde de fechar, comprometeria toda minha carreira. Várias clínicas de reprodução já fecharam, agora quando eu fecho a minha tem que virar notícia? Não faz sentido," disse.

Ele insistiu que todas as suas operações eram legítimas e que tinha informado o Cremesp e a vigilância sanitária sobre o fechamento, além de ter avisado as pacientes.

Numa operação de resgate, que ocorreu em junho após decisão judicial, a polícia encontrou amostras de embriões, óvulos e sêmen congelados ainda viáveis, apesar das condições precárias da clínica.

A presidente da ONG Gestar, Vanessa Jost, que representa 35 pacientes de Tosyn, disse que ela e os pacientes não tinham certeza se encontrariam algo.

"Quando entramos, vimos que o imóvel estava realmente bastante abandonado. Não havia mais nenhum móvel no local, estava sem luz e sem água. Havia muitas baratas", disse.

Tosyn tinha quatro endereços registrados em São Paulo, mas as buscas aconteceram em apenas um deles, onde era a sede principal das consultas. Proprietários dos outros três imóveis relataram que não havia nada nos locais.

"Entramos pelo andar de baixo da clínica, mas estava vazio. Depois fomos para o andar de cima. Quase na última sala, encontramos três contêineres. Um deles era de reposição de nitrogênio, e os outros dois continham material genético de cerca de 63 mães", relatou.

A maior parte do material encontrado consistia em embriões, além de alguns óvulos e amostras de sêmen, mas restava saber se estavam em boas condições para uso. Foi quando algumas pacientes manifestaram a vontade de descartar o material por motivos pessoais e deram autorização para descongelar e testar a viabilidade.

Os resultados indicaram que as amostras ainda estavam boas condições para uso. "Não podemos afirmar que todos estão assim. Mas isso indica que as chances de estarem viáveis são grandes, tendo em vista as condições dos que foram descongelados", afirma Jost.

A Polícia Civil de São Paulo também está investigando o caso. Em nota, disse que há um mandado de prisão em andamento e que atuam para encontrar o médico e concluir as apurações.

Além disso, foi instaurado um novo inquérito policial para investigação de infração penal prevista na Lei de Biossegurança, que rege questões de organismos geneticamente modificáveis.