Tem coisas que a gente tem que fazer para nós mesmos. Um café, uma compra, um curso, escolher uma série para ver sozinho são presentes que devemos nos permitir. São autocuidados necessários. É sempre bom cuidar das outras pessoas e também receber carinho e atenção, mas entender que devemos nos cuidar abre portas para uma felicidade serena que é rara de encontrar. É fundamental para que nossa existência tenha algum valor real.
Infelizmente, ao longo da vida a gente aprende que pensar em si é egoísmo, e até pecado. E, por isso, todas as vezes que decidimos fazer algo para a gente mesmo vem aquele sentimento de culpa. É como se a gente estivesse ferindo uma regra social e até divina.
Um exemplo simples: dizer não. Não tem autocuidado mais saudável. Dizer não para pessoas tóxicas, para situações e relacionamentos ruins, é uma forma grandiosa de a gente se cuidar. No entanto, somos educados para sempre dizer sim. E adoecemos.
Outro autocuidado que negligenciamos é o ócio. Ficar sem fazer nada, tirar um dia para desligar-se socialmente, é de extrema importância para que a gente descanse emocionalmente, desacelerando o coração e a mente. Mas, no mundo atual, isso é tratado como pecado mortal. As frases e os vídeos motivacionais nos levam a uma extrema santificação do trabalho e da produtividade. “Trabalhe enquanto eles dormem”, dizem. E assim a sociedade vai ficando ansiosa, perdida e cansada.
Daí surgem problemas psicológicos que nos levam, por exemplo, a desenvolver baixa autoestima, sensação de que a vida não anda, autossabotagem, dificuldade em se aceitar do jeito que é, e a falta de um propósito de vida.
Quem está acostumado a somente cuidar dos outros ou a levar uma vida desregrada pode ter problemas para viver o autocuidado no início. Todavia, disciplina e um breve período de prática são o suficiente para que hábitos melhores sejam formados.
E como dar o primeiro passo? Primeiro, entendendo que o autocuidado é um processo. É necessário passar por um longo período de aprendizado e de experimentação para alcançar o estado de bem-estar desejado. Afinal, o que funciona para você pode não funcionar para outras pessoas e vice-versa! Atividades, dias e horários devem ser testados até que a fórmula correspondente ao seu modo de vida seja encontrada.
Temos que ter um despertar para tudo isso. Está na hora de a gente aprender que a vida é muito mais do que trabalhar e pagar boletos. A diversão não pode ficar restrita aos finais de semana, ao “sextou”. A felicidade não pode ser associada apenas a um copo de bebida. O bem-estar de corpo e alma só pode ser alcançado com autoconhecimento e auto-respeito. Dica do dia: se dê um presente hoje, você merece!
Jean Oliveira é jornalista, bacharel em Turismo e estudante de psicologia