21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Jean OIiveira: O medo do desamparo na vida moderna

Por Jean Oliveira | Especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 2 min
Imagem ilustrativa

O desamparo, que é a sensação de estar sozinho e sem apoio, sem ter a quem recorrer ou onde encontrar segurança, é uma constante na vida das pessoas. Sigmund Freud (1856 – 1939), o pai da psicanálise, dizia que este sentimento de vulnerabilidade e fragilidade diante da vida e dos desafios que ela apresenta define nossas crenças, ilusões e nos leva a uma tentativa desenfreada de realização de desejos.

Segundo ele, esta necessidade de fugir do medo do desamparo explica a criação de sistemas religiosos, de explicações para questões como a morte e nos leva a quer sempre pertencer a grupos sociais e familiares. Até mesmo há quem fique em relacionamentos ou empregos ruins pelo medo de ficar sozinho.

Freud, em O Mal-Estar na Civilização (1930), aborda de forma contundente a angústia que assola o homem ao se deparar com sua incontestável fragilidade diante da natureza, da cultura, de seu próprio corpo e do outro. Mesmo no século XX, Freud parecia prever os acontecimentos futuros, que são tão presentes hoje, principalmente pela proximidade globalizada das informações, que penetram em nossos lares com um simples clique. A modernidade tem seu preço e todos pagam por ele.

Essa angústia - que é pessoal e intransferível -, tem se potencializado em um mundo globalizado, em que notícias de tragédias, de políticas rasteiras e mudanças climáticas bombardeiam as pessoas 24 horas por dia. Angústia que também chega por meio da comparação de vidas pelas redes sociais e pela busca por ter sempre o melhor carro, a melhor casa e a melhor roupa. Tudo para ser aceito e não estar sujeito à solidão.

Lidar com nossas questões pessoais, portanto, se torna ainda mais penoso à medida que somos bombardeados pelo sofrimento advindo tanto do mundo externo quanto do interno. E ficamos ansiosos.

E como resolver esta questão? Compreender e aceitar a presença do desamparo pode ser o primeiro passo para uma vida mais consciente e menos angustiada. O que nos resta é entender que esta ansiedade que sentimos no cotidiano e o medo de não estar sendo aceito serão sempre presentes e que podemos viver melhor tendo uma vida mais voltada ás relações reais. Mais feliz é aquele que vê a beleza da flor de perto, sentindo seu cheiro, do que aquele que vê o jardim ao longe, faz uma foto e posta à procura de likes.

Quando entendemos que somos frágeis e que não precisamos de ser aceitos por todos, passamos a ser mais humanos e empáticos conosco e com o próximo. O medo do desamparo, por mais estranho que possa parecer, pode ser o motor para uma vida mais feliz, nos impulsionando ao autoconhecimento, à promoção de um mundo melhor para aos que estão próximos da gente e julgando menos. Afinal, estamos todos no mesmo corre!


Jean Oliveira é jornalista e estudante de Psicologia e Psicanálise