Na quarta-feira passada, dia 26 de junho, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em primeira votação (no tempo recorde de 25 segundos), um projeto de lei de autoria do vereador Rubinho Nunes (União) que prevê multa de R$ 17 mil a ONGs (Organizações Não Governamentais) e indivíduos que distribuírem comida a pessoas em situação de rua sem cumprir determinados requisitos (esdrúxulos) como “disponibilizar tendas, mesas, cadeiras, talheres, guardanapos e demais ferramentas necessárias”.
Conhecida por PL da Fome, a proposta do vereador Rubinho Nunes visa atingir, principalmente, o padre Júlio Lancellotti, responsável pela Pastoral do Povo da Rua, da Igreja Católica, que há anos alimenta os miseráveis na capital paulista.
Em um passado recente, o vereador tentou abrir pelo menos duas CPIs (Comissões Parlamentar de Inquérito) contra o religioso a quem ele chama de “falso padre” e acusa, sem provas, de fazer parte da “máfia da miséria”, pessoas que ganhariam dinheiro se aproveitando das doações aos pobres.
Importante esclarecer que o vereador Rubinho Nunes não conseguiu assinaturas suficientes dos vereadores para abrir as duas CPIs e agora ele está sendo investigado pela Polícia Civil de São Paulo por suposto abuso de autoridade.
Também é relevante mencionar que depois da grande repercussão negativa do PL da Fome, o vereador, alinhado à extrema direita, retirou o projeto de votação na última sexta-feira, dia 28.
Contribuíram para essa decisão um parecer da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) apontando que o PL da Fome era inconstitucional e uma declaração do próprio prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, aliado do vereador, afirmando que vetaria o projeto caso ele fosse aprovado.
Para quem não sabe, é responsabilidade das prefeituras cuidar dos moradores em situação de rua. Então, quando um religioso como o padre Júlio Lancellotti alimenta esses famintos, ele está ajudando os gestores públicos, a administração municipal.
Entretanto, mesmo que afastado, pelo menos momentaneamente, o absurdo de não poder dar comida a quem tem fome (Mateus 25:35), é importante refletir: quem é essa gente ruim que deseja proibir a bondade, a caridade e a compaixão?
Quem é esse tipo de político ruim que por causa de uma intriga pessoal contra um padre deseja matar de fome centenas de pessoas já desumanizadas pela desigualdade social, pela miséria e pela pobreza?
Quem é essa gente ruim eleita para criar leis absurdas, seja na maior capital do país ou em qualquer outra currutela desse país?
O que imediatamente leva a pensar também: quem são as pessoas que escolhem como seus representantes, políticos ruins como Rubinho Nunes? Quem são esses eleitores que apoiam políticas desumanas e anticristãs?
E como um pensamento leva ao outro e esse ano é ano de eleição, quem você, leitor, vai escolher para fazer leis na sua cidade? Vereadores que representam apenas e descaradamente os seus interesses pessoais ou seres humanos preocupados com o coletivo, com a sociedade, com o bem-estar do povo?
Políticos que querem “lacrar” nas redes sociais cometendo atrocidades ou vereadores realmente dispostos a fiscalizar os gastos públicos e criar, por exemplo, leis que melhorem a mobilidade urbana e a proteção do meio ambiente?
Você, leitor, já sabe com quais pautas o seu candidato ou candidata a vereador(a) está comprometido(a)? No currículo dele(a), o que ele(a) traz de experiência que pode servir para a coletividade?
É verdade que as candidaturas ainda não estão oficialmente nas ruas. Mas é possível saber, sim, quem estará nas disputas para o Legislativo da cidade. Agora é a hora de pesquisar, conversar, conhecer o projeto de trabalho de cada candidato(a). O que vale para o Executivo também.
Todo voto é coisa séria. Cada voto errado pode significar anos de atraso ou injustiças criminosas.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, especialista em Metodologia, mestre em Comunicação e Semiótica com MBA Internacional em Gestão.