Quando eu era criança, um dos dias mais esperados do ano era o domingo de Carnaval. A sensação de felicidade era igual à do dia de aniversário, da Páscoa ou o Natal.
Tudo isso porque no domingo de carnaval tinha matinê para as crianças e era dia de ir vestido com fantasia, de pintar o rosto, de jogar muito confete e serpentina para o ar, correr sem parar no salão enquanto os músicos tocavam marchinhas alegres que nos faziam sorrir com o grupo de amigos.
Minha mãe, sempre dedicada e cuidadosa, fazia questão de enfeitar as filhas e cuidar delas por horas no salão. Transformava nossos sonhos em realidade e éramos bailarinas, palhacinhas, havaianas com suas saias hula hula, cada ano uma fantasia diferente.
Quem cuidava do carnaval das crianças no clube era tão legal que distribuía medalhas para todo mundo que ia fantasiado e, assim, pensávamos que havíamos ganhado um concurso e a alegria aumentava.
O clima no salão da matinê no carnaval era ótimo. Os pais que iam, ficavam conversando no bar, mas sempre de olho na meninada. As mães permaneciam em mesas, sentadas, cuidando de todos os filhos – delas e das outras - e colocando a conversa em dia.
A tarde corria rápido demais, das duas às cinco o tempo voava. Acabávamos exaustas e felizes, discutindo qual seria a nossa fantasia no ano seguinte.
Carnaval na minha infância era familiar e uma oportunidade incrível de curtir com os amigos. Não foi diferente na adolescência. O clube era nossa casa. Durante o dia, piscina e esportes. À tarde, roda de samba. De noite, bailes de carnaval animados pela banda Jair Cap Show (que ainda toca em algumas formaturas em Araçatuba) e diversão até o amanhecer.
Mas, por uma série de motivos, o Carnaval foi acabando em muitas cidades brasileiras. Ficou apenas o evento cultural e turístico nas capitais e algumas cidades conhecidas por incrementá-lo porque o evento movimenta milhões de reais e ainda alegra quem tem a felicidade de participar dele.
Chegamos ao ponto. Esse artigo não se trata de uma crônica com toques de saudosismo, mas é uma sugestão para os gestores públicos.
Investir no Carnaval – e não apenas com recursos públicos, mas principalmente com parcerias junto à iniciativa privada – pode ser uma forma de as cidades do interior se tornarem mais conhecidas e turísticas, dessa forma movimentando a economia e promovendo a cultura.
Vamos tomar como exemplo o Bloco do Gordinho de Araçatuba, uma iniciativa incrível da atriz e produtora Paula Liberati há nove anos quando, sem opções para se divertir com o afilhado João, carinhosamente chamado de Gordinho, ela reuniu familiares e amigos e, com um carro de som financiado por ela mesma, percorreu algumas ruas da cidade entre as praças Olímpica e João Pessoa.
Claro que pelo caminho o grupo encontrou curiosos que não apenas gostaram da ideia, mas quiseram participar nos anos seguintes. Ao longo do tempo, Paula conseguiu apoios financeiros que tornaram o bloco uma das atrações do carnaval de Araçatuba.
Criar novos bloquinhos seria uma ideia para a prefeitura municipal implantar nos anos vindouros. Já pensaram em um bloco para a terceira idade? E um bloquinho para jovens onde cada grupo vista o seu abadá e se confraternize na festa? Poderia ter o bloco do “Vóti veio” e também o bloco só de mulheres (há mais de 16 deles pelo país).
Cidades com bloquinhos de carnaval faturam muito. Perguntem para Barretos e Votuporanga. E uma cidade expoente como Araçatuba merece mais destaque no cenário regional, estadual e por que não, nacional, não acham?
Notícias veiculadas pela imprensa local informam que há uma expectativa de 30 mil turistas no carnaval em Araçatuba. O número foi baseado nas estimativas de organizadores de eventos, públicos e particulares. Mas a orla do rio Tietê junto com uma cidade trabalhada efetivamente trabalhada no marketing para esses dias de festa poderiam elevar muito mais esses números.
Fica a ideia para os próximos gestores públicos.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista com MBA em Gestão.