TRAGÉDIA A voz que elevou multidões Brasil afora faz calar o país com sua morte repentina e inesperada; Marília deixa o filho Léo, de 2 anos, família, amigos e um vazio no peito dos brasileiros
Bryan Belati
A perda de ente querido abala as estruturas de toda uma família. Quando esse ente querido é a voz de uma geração e faz parte da família brasileira, então a dor e a perda são ainda mais latentes.
É assim que o Brasil se sente com a morte da cantora Marília Mendonça na tarde de ontem (4), após um trágico acidente aéreo em Minas Gerais. Ela e sua equipe voavam de Goiânia (GO), com destino à Caratinga (MG), cidade onde Marília iria se apresentar.
Já se sabe que o avião bateu em fios de alta tensão antes de cair. A informação foi confirmada pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e será investigada pela aeronáutica. A aeronave era um bimotor Beech Aircraft, da PEC Táxi Aéreo, de Goiás, prefixo PT-ONJ, com capacidade para seis passageiros. De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o avião estava em situação regular e tinha autorização para fazer táxi aéreo.
Em nota, a assessoria de imprensa da cantora confirmou a morte de Marília, seu produtor Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, do piloto e co-pilto do avião, os quais os nomes não foram divulgados.
Antes de decolar, Marília Mendonça postou em suas redes sociais um vídeo com imagens suas embarcando e dentro do avião, se alimentando com a equipe. Marília recebeu homenagens de inúmeros artistas da música e também do entretenimento.
Até o fechamento desta edição, o último post da cantora no Instagram já acumula mais de 600 mil comentários com homenagens e mensagens de fãs da cantora que seguem desacreditados com o que aconteceu.
Os corpos de Marília e do tio dela, Abicieli Silveira Dias, serão velados juntos, neste sábado (6), no Ginásio Goiânia Arena, na capital de Goiás. O velório será aberto ao público e acontecerá das 13h às 16h. Já o sepultamento será preservado aos familiares, no Cemitério Parque Memorial, também em Goiânia. As informações são da assessoria da artista.
A Folha da Região homenageia a figura que Marília Mendonça representou e ainda representa na música sertaneja, todos os feitos de sua carreira e celebra sua trajetória em reportagem especial.
INÍCIO
Marília Dias Mendonça nasceu em 22 de julho de 1995, no município de Cristianópolis, Goiás, mas foi criada na capital, Goiânia, pela mãe e alguns tios.
Seu primeiro contato com a música foi na igreja, e logo depois passou a compor suas próprias canções. Aos 12 anos de idade, suas composições começaram a ser gravadas por grandes nomes do sertanejo, como João Neto e Frederico e Wesley Safadão.
Dentre suas criações, estão "Minha Herança" (João Neto & Frederico), "Muito Gelo, Pouco Whisky" (Wesley Safadão), "Até Você Voltar", "Cuida Bem Dela", "Flor e o Beija-Flor" (Henrique & Juliano), "Ser Humano ou um Anjo" (Matheus & Kauan), "Calma" (Jorge & Mateus) e "É Com Ela Que Eu Estou" (Cristiano Araújo).
Mas, seu lançamento como cantora foi em janeiro de 2014, com o primeiro EP homônimo. A partir desse momento, a carreira de Marília decolou, e suas canções já estavam na boca do povo.
Em 2015, com o lançamento da música "Impasse", Marília chegou às rádios de todo o Brasil, e sua projeção como artista crescia ao mesmo tempo que abria portas para o movimento feminino no sertanejo, o que ficou conhecido como “feminejo”.
Em março de 2016, lançou seu primeiro álbum, intitulado “Marília Mendonça: Ao Vivo”. A obra contou com os singles "Sentimento Louco" e "Infiel", que viria a se tornar, mais tarde, a segunda canção mais executada nas rádios do Brasil naquele ano, fazendo a Mendonça ganhar ainda mais reconhecimento nacional.
Em outubro, foi lançado um EP acústico ao vivo nomeado “Agora É Que São Elas”, com faixas de sucesso anteriores e tendo como single unicamente a canção "Eu Sei de Cor".
Com o lançamento do segundo EP homônimo em janeiro de 2017, com mais quatro faixas inéditas, Marília preparava o público para o que viria a ser um de seus maiores projetos: o álbum “Realidade”, lançado em março do mesmo ano, que teve como singles "Amante Não Tem Lar" e "De Quem É A Culpa".
Em novembro, lançou o single "Transplante", composição de Murillo Huff, em parceria com a dupla Bruno & Marrone. Em julho, Mendonça conquistou o posto de artista brasileira mais ouvida no YouTube, ficando em 13º lugar no ranking mundial.
O terceiro DVD da cantora revolucionou o mercado sertanejo e da música brasileira no quesito audiovisual, pois cada canção foi gravada em uma capital de cada estado brasileiro. E a apresentação, aberta ao público, foi divulgada apenas no dia da gravação, na rua, com panfletagem feita pela própria Marília e sua equipe.
Em “Todos Os Cantos”, lançado em 2019, estiveram presentes os singles "Ciumeira", "Bem Pior Que Eu", "Todo Mundo Vai Sofrer" e "Supera". No mesmo ano, foi divulgado pelo serviço de streaming Spotify, que a cantora ocupava o primeiro lugar no TOP 10 das mulheres mais ouvidas do Brasil na plataforma. A divulgação do álbum contou ainda com o lançamento de mais dois volumes do DVD, lançados respectivamente em maio e agosto de 2019.
No mesmo ano, a intérprete assumiu um relacionamento sério com o também músico Murillo Huff. Em junho, confirmou estar grávida, dando à luz ao seu filho Léo, nascido prematuro de oito meses, no dia 16 de dezembro de 2019, em Goiânia, através de parto normal.
Marília Mendonça ganhou diversos prêmios e foi indicada à inúmeras premiações por seu trabalho com a música e também por sua personalidade e carisma no entretenimento.
Dentre os prêmios mais notórios conquistados pela rainha da sofrência, estão o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Sertaneja, por “Todos Os Cantos”, e o Prêmio Multishow da Música Brasileira na categoria Melhor Show, em 2018 e 2019. Ela também foi indicada em 2017.
LEGADO
O legado que Marília Mendonça deixa à música brasileira e ao público do Brasil é inegável e indiscutível. Intitulada “Rainha da Sofrência”, Marília irradiava alegria e bom-humor por onde passava.
Dificilmente envolvida em polêmicas, a cantora defendeu o direito das mulheres, lutou pela causa feminista e liderou um dos movimentos mais revolucionários da música brasileira dos últimos anos: o feminejo.
Marília liderava o ranking de músicas mais tocadas, era a artista feminina mais ouvida do país, apoiava novos artistas e trabalhava com cantores e cantoras do gênero para fortalecer o movimento não só do sertanejo, mas da arte em um país em que a cultura nem sempre é tida como algo importante.
Em suas participações em programas de televisão e gravações de DVDs de outros cantores, Marília Mendonça sempre tinha em seu rosto um sorriso estampado, e emanava a alegria de trabalhar com aquilo que ama, sentindo a satisfação do público e prestigiar sua arte onde quer que ela fosse.
Marília se foi como muitas outras vozes que ficaram marcadas na história do Brasil. Ainda que sua partida seja sinônimo de tristeza e vazio no coração de muitos, sua imagem será sempre de felicidade, carisma e boas energias. A voz de Marília Mendonça se cala, mas a do Brasil segue entoando seus refrães melódicos e letras românticas.