SÉRIE A história do grande roubo na capital da Espanha e o maior sucesso de língua não inglesa da Netflix chega ao fim
No início deste mês lançou a quinta e última temporada de “La Casa de Papel”. A premiada série espanhola da Netflix que conquistou milhares de fãs pelo mundo, neste ano encerra a sua história.
A quinta temporada foi dividida em duas partes. Cinco episódios foram lançados no dia 3 de setembro e os outros cinco sairão em 3 de dezembro.
“La Casa de Papel” é uma série de drama policial criada por Álex Pina. A trama aborda dois assaltos muito bem preparados na Casa da Moeda Real da Espanha e outro no Banco Central da Espanha, que liderados por um homem conhecido como “O Professor”.
A narrativa é contada em tempo real e depende de flashbacks, saltos no tempo, motivações ocultas dos personagens e um narrador não confiável para dar mais complexidade.
A série subverte o gênero roubo ao ser contada na perspectiva de uma mulher, a Tóquio, e ter uma forte identidade espanhola, onde a dinâmica emocional compensa o crime “perfeito”.
O roteirista Álex Pina e o diretor Jesús Colmenar tiveram a ideia da série querendo tentar coisas novas. Nunca houve a história de um roubo na televisão espanhola.
A iniciativa era criar uma série que combinasse elementos do gênero ação, thrillers e surrealismo, embora ainda seja credível. Pina se inspirou nos filmes típicos de assalto e pensou que desenvolver os personagens poderia deixar a narrativa mais longa. Estes personagens deveriam ser mostrados de vários lados para quebrar os preconceitos sobre vilania e manter o interesse do publico no show.
Inicialmente, foi planejada uma minissérie de 15 episódios dividida em duas partes, a primeira com nove, e a segunda com seis. A exibição original foi na rede Antena 3, em maio de 2017.
ENREDO
Com o planejamento do Professor para o grande assalto, ele recruta uma equipe de oito pessoas com determinadas competências e que não tem nada a perder. A meta é entrar na Fábrica e imprimir 2,4 bilhões de euros em 11 dias de reclusão. Neste tempo, eles tem de lidar com as forças policiais e 67 reféns.
Os oito ladrões tem o nome código de distintas cidades ao redor do mundo: Tóquio, Moscou, Nairóbi, Rio, Denver, Helsinque e Oslo. Eles vestem macacões vermelhos e uma máscara do pintor Salvador Dali.
TELEVISÃO
O programa teve a melhor estreia de uma série espanhola desde abril de 2015, com mais de quatro milhões de telespectadores e a participação majoritária de telespectadores.
Recebeu boas críticas e permaneceu um líder no grupo-alvo comercial na primeira metade da parte 1. Mas a audiência caiu mais do que o esperado pelos executivos da emissora.
O jornal argentino “La Nación” atribuiu a queda da audiência à mudança nos horários, sendo eles mais tardios e às férias de verão. Pina via os comerciais como responsáveis, por interromperem o fluxo narrativo da série.
O jornal “La Vanguardia” afirmou que o público foi perdendo o interesse por causa do desenrolar lento do enredo, a uma taxa de um episódio por semana.
NETFLIX
No final de 2017, a Netflix adquiriu os direitos globais de streaming e readaptou a duração dos episódios aumentando-os para 22, dividindo a minissérie toda em duas partes, sendo a última lançada em abril de 2018. Naquele mesmo mês, a plataforma renovou a série para mais 16 novos episódios. Sendo a parte 3, lançada em julho de 2019, e a parte 4 em abril de 2020. Contudo, em julho do mesmo ano, a Netflix renovou o show para uma quinta temporada.
Sem uma campanha de marketing dedicada à Netflix, a série se tornou a primeira em idioma não inglês mais assistida da plataforma no início de 2018, quatro meses após ser adicionada no catálogo. Isso levou a Netflix a assinar um acordo global exclusivo com Pina logo depois.
O diretor de conteúdo original da Netflix na Europa. Diego Ávalos, observou que a série era atípica por ser assistida em muitos grupos de perfis diferentes.
Explicações comuns para a diferença de visualização foram os hábitos de consumo alterados dos espectadores da série e o potencial de assistir excessivamente ao streaming.
O sucesso foi tanto que “La Casa de Papel” se tornou uma das séries mais populares. Regularmente é tendência nas redes sociais com pessoas vestindo as roupas dos ladrões, as fantasias usadas no Carnaval e máscaras de Salvador Dalí em enormes faixas nos estádios de futebol da Arábia Saudita.
A estudante Tainara Borborema, 22 anos, que é grande fã da série conta que o lançamento foi uma febre no Brasil. “Me recordo que no Carnaval de 2018, a cada esquina havia uma pessoa fantasiada com o figurino de ‘La Casa de Papel’, então era praticamente impossível não conhecer a série”.
Tainara confessa que naquela época a série ainda não tinha atraído sua atenção e que teve relutância por considerar “modinha” ou algo de momento.
Em meados de 2019, foi quando a estudante começou a assistir séries de suspense e temáticas voltadas ao crime. Depois de quase esgotar o gênero no catálogo da Netflix, ela se deparou com o título “La Casa de Papel” e ela resolveu dar uma chance. “Foi a melhor escolha que fiz. Me apaixonei por toda a produção e o elenco”, relata.
Para Tainara, a série é feita para prender o telespectador, que se sente apreensivo o tempo todo. Há muitas cenas de ação, e todas tem um motivo para existir. Sempre tem um motivo importante para o desenrolar da trama. Segundo ela, isso faz a série ser genial.
Outra percepção recorrente dos fãs é a de se afeiçoarem aos personagens, mesmo eles sendo ladrões.
“Eu gosto muita da história e como roteiro brinca com o “bem” e o “mal”. Essa dualidade passa a ser ressignificada, já que ao conhecer a história de vida dos personagens, você acaba torcendo por eles, pelo sucesso deles”, diz Tainara.
A jovem acrescenta que o diferencial de “La Casa de Papel” comparado a outras séries é o alto grau de realismo. Os detalhes em relação ao cenário e figurino combinados a iluminação e a alta performance dos atores geram um ótimo resultado.
“Por exemplo, a cena de explosão de uma sala luxuosa dentro do Banco da Espanha que comportava diversas obras de arte. Todo o cenário foi pensado a partir de referências encontradas no Diário Oficial da Espanha e produzido por escultures, ferreiros, artistas e designers. Todo esse espaço foi construído para ser completamente destruído, mostrando toda a grandeza dessa produção”, finaliza.
PRÊMIOS
O seriado e os atores foram indicados em diversas premiações e venceram alguns, como melhor roteiro, melhor direção, melhor ficção, melhor ator e atriz, tanto protagonista quanto secundário ou coadjuvante e o Emmy Internacional (considerado o Oscar das séries) de Melhor Série Dramática, em 2018.
*Maryla Buzati, estudante de Jornalismo e estagiária da Folha da Região