21 de dezembro de 2025
Cultura

Nova animação da Pixar “Luca” homenageia a cultura italiana

Por Redação |
| Tempo de leitura: 4 min
AVENTURA Lucca, ao lado do amigo Alberto, decide explorar uma região perigosa para sua espécie na riviera italiana. (Divulgação: Disney Pixar)

PRODUÇÃO A ambientação na Itália faz parte de uma proposta da Disney em diversificar suas histórias fora dos países de língua americana e aproveitar as produções para celebrar as culturas e idiomas que derivam do latim, sendo o italiano um deles

"Uma criatura marinha encontra relíquias humanas que submergiram acidentalmente. Ela olha para elas, fascinada, e sonha com o dia em que enfim poderá conhecer a superfície -apesar dos apelos de sua família para que ela não se aproxime dos temíveis humanos."

A descrição acima pertence a um clássico da Disney, "A Pequena Sereia", mas também serve para explicar "Luca", nova animação da Pixar que chega agora a plataforma de streaming Disney+.

ENREDO

Neste filme, o protagonista não é um "sereio" - ou um tritão -, mas um monstro marinho de 13 anos que habita os mares da Riviera Italiana. Ali perto fica uma cidadezinha humana adornada com estátuas e quadros de monstros marinhos sendo massacrados - as lendas dizem, e muitos acreditam que os seres de fato existem e são uma ameaça.

Mesmo assim, Luca decide explorar a superfície, acompanhado de um novo amigo, Alberto, graças à habilidade dessas criaturas de assumirem a aparência de humanos uma vez fora da água. Saem as escamas, barbatanas e caudas e entram em cena braços e pernas que precisam ser domados com certa dificuldade.

DIVERSIFICAÇÃO

Fora do universo dos países de língua inglesa e da Europa pasteurizada de tempos passados, "Luca" faz parte de um esforço recente da Disney de diversificar suas histórias. O italianismo dos personagens transborda, de forma autêntica, divertida e sem comedimento.

Eles têm sotaques carregados e mãos inquietas, enquanto o cenário é de uma cor viva, com arquitetura que remete à cidade de Gênova. "Santo Pecorino" e "Santa Mozzarella" estão entre as expressões ditas por uma das personagens a partir de queijos locais.

"Isso sempre foi muito importante. Parte disso foi solucionado usando minhas memórias, e quanto mais detalhes eu conseguia trazer para a história, mais autêntica ela ficava", diz Enrico Casarosa, diretor do longa.

Para fugir de estereótipos e alcançar o clima mediterrâneo que queria, ele recorreu não apenas a seu passado genovês, mas também a pequenos conselhos da Pixar formados por italianos e seus descendentes, a uma dramaturga nascida no país e à divisão da Disney na Itália, com a qual organizou "um simpósio de gesticulação pelo Zoom para saber como os personagens deveriam dizer certas coisas".

Para a ambientação da história, Enrico Casarosa não economizou nos clássicos do repertório italiano. Os cantores Gianni Morandi, Rita Pavone, Mina Mazzini e até Giacomo Puccini sonorizam a jornada de Luca e Alfredo.

INTERPRETAÇÕES

Dado o romance intrínseco às canções do país, a relação de amizade dos protagonistas vem sendo interpretada como algo mais. Nas redes sociais desde o lançamento do trailer de "Luca", houve quem comparasse o filme a "Me Chame pelo Seu Nome", novo clássico gay, por causa da ambientação na Itália. Já a ideia de um menino que precisa esconder quem realmente é para ser aceito também vem sendo lida como uma alegoria LGBT.

Tanto que essa teoria chegou a ao diretor do filme, que concorda que a questão identitária é muito importante para a trama. Mas ele diz que esse não é um romance. A história diz respeito a um período da vida anterior ao amor romântico, mais inocente, uma idade em que tudo é muito intenso.

"Essas teorias mostram o quanto nós queremos representatividade, mas não foi dessa forma que essa história nasceu. O que eu amo nesse filme é o fato de os personagens terem esse sentimento de serem diferentes, oprimidos, o que faz desse um longa sobre encontrar confiança para ser quem você é", ressalta Enrico.

COMPARAÇÕES

É fácil comparar "Luca" à vivência LGBT. Vários diálogos no filme parecem ter sido escritos para fazer um aceno a esse público, em paralelo às inúmeras cobranças de fãs da Disney por representatividade nas telas.

"Algumas pessoas jamais irão aceitá-lo, mas algumas vão", "minha família ia me mandar para um lugar horrível, longe de tudo o que eu amo", "se alguém fosse um monstro marinho, eu duvido que sua escola o aceitaria". Essas são algumas das falas que devem engrossar as teorias internautas depois que o longa chegar ao público neste Mês do Orgulho LGBT.

Por enquanto, pelo menos oficialmente, "Luca" continua sendo uma história sobre a inocência da infância e o poder da amizade, embrulhada num berrante vermelho e verde e com muitas menções a diferentes tipos de macarrão.