15 de dezembro de 2025
Araçatuba

Dia da Imigração Japonesa: influência da cultura nipônica no Brasil

Por Redação |
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Crédito da foto: Divulgação

Há 113 anos chegava em solo brasileiro o primeiro navio com imigrantes japoneses. Desde então enriqueceram o país tropical com seus costumes, tradições e deram início a comunidade nipo-brasileira

O Dia da Imigração Japonesa ou Dia Nacional da Imigração Japonesa é comemorado hoje (18), no Brasil. Oficialmente, a data foi instituída no país por meio da Lei nº 11.142, em 25 de julho de 2005. Em 2021, a Imigração Japonesa no Brasil completa 113 anos.

A vinda dos imigrantes do Japão para cá atendia às necessidades socioeconômicas dos dois países. No Brasil, com a diminuição gradual da mão de obra escrava ao longo do século XIX, a expansão da lavoura do café dependia da política imigratória para obter mão de obra necessária para o trabalho.

O Japão, por sua vez, vivia um período de profundas mudanças nas relações sociais e de transformação para um Estado nacional moderno. A modernização do país gerou desenvolvimento industrial e reformas no sistema educacional, e também crescimento demográfico, êxodo rural e tensões sociais, e a emigração se apresentou como uma possível solução.

HISTÓRIA

A data 18 de junho foi escolhida por fazer referência ao dia em que o primeiro navio vindo do Japão aportou no porto de Santos, em São Paulo, em 1908. A bordo do navio Kasato Maru havia 165 famílias, com mais de 700 imigrantes vinculados ao acordo imigratório estabelecido entre as duas nações.

Após cruzarem o mundo em uma viagem de 52 dias, todos foram levados de trem até a cidade de São Paulo, sendo acolhidos na Hospedaria de Imigrantes do Brás, que atualmente é a sede do Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Da Hospedaria, foram distribuídos para seis fazendas paulistas, para trabalharem nas lavouras.

As exigências feitas pelo governo brasileiro eram a recrutamento de três mil agricultores em três anos e a primeira leva deveria chegar ao Brasil em 1908. Além disso, as famílias deveriam ser constituídas de pelo menos três pessoas aptas para o trabalho - com no mínimo 12 e no máximo 45 anos de idade - para que permanecessem por longo tempo nos postos de trabalho.

A chegada de navios ocorria de forma irregular por conta das duas guerras mundiais e a última embarcação a trazer imigrantes japoneses, o navio Nippon Maru, aconteceu em 1973.

ACOLHIDA. Quando chegaram ao Brasil, os imigrantes foram para a Hospedaria de Imigrantes do Brás, atual sede do Museu da Imigração do Estado de São Paulo Crédito da foto: Acervo Museu da Imigração do Estado de São Paulo

ESTABELECIMENTO

Os nativos japoneses enfrentaram, porém, adversidades até conseguirem se estabelecer de fato na terra estrangeira. Alguns deles não permaneceram por muito tempo nas propriedades, e muitas foram sendo gradativamente abandonadas pelos exóticos trabalhadores de olhos puxados e costumes tão diferentes.

Os primeiros imigrantes japoneses a se tornarem proprietários de terras brasileiras foram cinco famílias, que adquiriram lotes na região de Sorocaba (SP), em fevereiro de 1911. Essas famílias foram também as primeiras a cultivar o algodão.

Em 1912, os imigrantes chegaram ao Paraná, tendo como precursora uma família procedente da província de Fukushima. Em agosto de 1913, um grupo de 107 imigrantes chega ao Brasil para trabalhar em uma mina de ouro, em Minas Gerais. Foram os únicos mineiros na história da imigração.

Nesta época, ocorreu também um dos episódios mais tristes da história da imigração, quando dezenas de pessoas que haviam se instalado na Colônia Hirano, em Cafelândia-SP, morreram vítimas da malária, doença então desconhecida para os japoneses.

ADAPTAÇÕES

Com o aumento do número de colônias agrícolas japonesas que, nesse período, se expandiram principalmente em direção ao noroeste do Estado de São Paulo. Começam a surgir também muitas escolas primárias destinadas a atender os filhos dos imigrantes. Em 1923, a Escola de Odontologia de Pindamonhangaba formou também o primeiro dentista de origem japonesa.

Entretanto, a presença crescente de um povo estrangeiro no país não parou de gerar polêmicas. Tanto na esfera executiva como legislativa surgiram opiniões a favor e contra a entrada de novos imigrantes japoneses.

Nos anos anteriores e durante a Segunda Guerra Mundial, o governo federal começou a limitar as atividades culturais e educacionais dos imigrantes e decretou o fechamento de todas as escolas estrangeiras, que incluíam as japonesas.

FAMÍLIAS NIPÔNICAS. A bordo do navio Kasato Maru havia mais de 700 imigrantes, vindos para trabalhar nas lavouras de café. Crédito da foto: Acervo Museu da Imigração do Estado de São Paulo

Além disso, todas as publicações neste idioma tiveram a sua circulação proibida. Até o fim da batalha, os japoneses viveram um período de severas restrições, inclusive com o confisco de todos os bens.

Após o fim do confronto, o clima de paz foi restabelecido. O governo anuncia a liberação dos bens confiscados, e em 1951 aprova projeto para introdução no país de 5 mil famílias nipônicas. Cinquenta anos após a chegada do navio Kasato Maru em Santos, o número de japoneses e descendentes no país somava 404.630 pessoas.

INFLUÊNCIA NIPÔNICA

Diferente do que ocorreu com outras comunidades japonesas espalhadas pelo mundo, no Brasil, muitos nipônicos casaram-se com os nativos e integraram os costumes local com os seus. Por isso, é a maior população de origem japonesa fora do país asiático.

A maior parte dos colonos japoneses se estabeleceu no Estado de São Paulo, se tornando o local com mais descendentes e com a influência nipônica mais acentuada. Desde então a sociedade brasileira vem sendo marcada pela integração dos nikkeis - denominação em língua japonesa para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão ou para aqueles que vivem regularmente no exterior.

Um exemplo disso é a professora Célia Mayumi Kimura Miyada, moradora de Araçatuba (SP). Filha de imigrantes japoneses, ela possui uma relação muito próxima com a cultura do país, que vem desde o berço. "Minha língua materna é o Japonês, e também dentro da minha casa falamos só em Japonês".

Seus pais são sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e vieram ao Brasil para escapar dos perigos do conflito, por isso Célia sempre ouviu histórias relacionadas à imigração japonesa durante o período da guerra. "Desde muito pequena ouvi as histórias e os sofrimentos que a guerra trouxe e porque tiveram que imigrar para o Brasil. "

Célia, que é professora de Língua Japonesa na cidade, morou no Japão por 17 anos, trabalhou como tradutora intérprete e quando retornou ao Brasil teve a oportunidade de dar aulas. Ela ainda conta que em sua família os costumes e tradições japonesas são vivenciados por todos, dos mais velhos até aos mais novos.

ENSINAMENTOS. Em suas aulas de língua japonesa, Célia passa seus conhecimentos sobre a cultura nipônica aos seus alunos. Crédito da foto: Arquivo pessoal

As datas comemorativas japonesas, de acordo com Célia, são celebradas não só por sua família, como também em seu trabalho. Dentre elas está o Obon. Comemorado em 15 de agosto, é uma das mais importantes tradições budistas no Japão. As pessoas acreditam que os espíritos de seus ancestrais voltam para suas casas para se reunir com sua família.

Nessa data, os japoneses limpam suas casas e túmulos dos seus antepassados e também colocam uma variedade de oferendas de alimentos como legumes e frutas para os espíritos, em frente a um altar budista (Butsudan). Podem também ser colocados arranjos de flores e lanternas.

"Tudo dentro da minha casa tem relação com o Japão, desde os costumes, a educação, a culinária, as datas comemorativas, as decorações da casa e a língua. E as tradições estão sendo passadas para os mais novos, através do convívio familiar", ressalta a professora.

*Renata Pardo, estudante de Jornalismo e estagiária da Redação da Folha da Região