21 de dezembro de 2025
Artigo

Rebanhos - Por Ana Laura de Almeida

Por Redação |
| Tempo de leitura: 2 min
Arquivo Folha


Conversa entre dois amigos, num dia de sol, embaixo de uma grande e frondosa árvore, em algum lugar do passado:
"_ Por que você está em silêncio? Não vai me dizer nada?
_ Você quer ouvir o que eu vou dizer?
_ Tenho medo. Acho que não.
Breve silêncio
_ Quando você parte?
_ Essa noite.
_ Porque você tem que ser assim? Porque tem que brigar com o Mundo? Porque não pode aceitar as coisas como elas são? Isso te faz feliz?
_ Porque você tem que ser assim? Porque não briga por nada? Porque aceita sempre as coisas como elas são? Isso te faz feliz?… (suspiro exasperado)… Olha, eu sei que você não entende. Parece que aqui ninguém entende. Mas eu não posso evitar. Não posso aceitar que a vida é assim, que isso é o que me resta. Eu preciso mudar as coisas. Eu quero tentar."

Passados tantos anos dessa despedida, a lembrança desse diálogo me trouxe à memória uma reportagem sobre os diversos agrupamentos de animais terrestres, os inúmeros bandos que habitam esse imenso planeta azul. Entre todos, sem dúvida, o bando mais complexo e estranho é o bando de gente. Porque, apesar de toda racionalidade e inteligência, no bando de gente existem dois tipos básicos: gente que age e gente que observa. Os que observam são mais numerosos. São mais dóceis e previsíveis. Gente que age não. Gente que age é indomável. Andam na contra mão do rebanho se tiverem certeza de que aquele é o sentido correto a seguir. Esses são raros. E necessários.

Obrigada, amigo, por nunca desistir da sua verdade. Por não se curvar perante a pressão avassaladora do senso comum. Pela sua coragem de agir para que as coisas mudem, mesmo sofrendo as consequências disso. Pela sua luta incansável pelos direitos daquela maioria que observa. Que seu exemplo inspire mais gente a agir. Você é imprescindível.

Ana Laura de Almeida é cirurgiã dentista