Todo ambiente social é um recinto de disputa política por poder, onde se disputam conceitos, objetivos, decisões, mas sempre é, por sua natureza, um ambiente de disputa.
É assim que acontece em todos os espaços sociais. É assim nas eleições, mas também no parlamento. Existe disputa nos sindicatos, nas associações de classe, nas sociedades de amigos de bairros, nos condomínios, mas isso você já sabia. O que talvez o surpreenda é que existe disputa no casamento, entre os cônjuges e não num ambiente de divórcio, mas no cotidiano de um casamento saudável. É com a disputa de argumentos que se decide onde se vai gastar ou investir os recursos da família. Onde os filhos vão estudar.
Onde serão as próximas férias etc. Há disputa até entre as crianças enquanto decidem do que vão brincar.
A disputa em si não é negativa, porque estimula o melhor das pessoas e faz reavaliar posições e conceitos. Mas o que muitos não perceber com a nitidez que deveriam é que no seio de um governo, seja ele municipal, estadual ou federal, há sempre uma disputa interna travada por seus membros embora todos façam parte do mesmo governo. É o governante quem harmoniza essas disputas e dá sentido, dá direção aos diferentes grupos heterogêneos, em alguma medida, que estão presentes num mesmo governo.
E é legitimo que esses mesmos grupos heterogêneos tentem influenciar, e influenciam, as decisões do governante.
Quem não ouvir falar que o Governo Bolsonaro é composto por pelo menos duas alas: a chamada ala ideológica, capitaneada pelos rebentos do Presidente Jair Bolsonaro e inspirada no filósofo Olavo de Carvalho e mais perceptível à sociedade, para qual as pautas dos costumes (aborto, ideologia de gênero, costumes judaico-cristãos etc.) são temas de primeira importância e; a ala militar, menos ideológica e mais pragmática que atua sutilmente, quase que invisível aos olhos menos treinados, mais preocupada com pautas econômicas e reformistas olhando para o futuro da nação, independente da individualidade de cada cidadão.
Essas alas se unem contra o adversário ou inimigo em comum, mas divergem entre si, o que é salutar, porque faz repensar internamente as ações do governo, contudo, compete ao Governante fazer com que as correntes políticas existente em seu governo marchem no mesmo sentido. Contudo, aparentemente o exército do governo Bolsonaro está dividido e isso não é bom. A revista VEJA desta semana retrata um pouco desta divisão em sua capa e explicita mais em seu conteúdo. É hora do presidente assumir o leme e apontar, com firmeza, a direção aos seus soldados e, inclusive, disciplinar os desregrados.
Evandro Silva é advogado