Há quem odeie ser cobrado, mas, paradoxalmente, cobra excessivamente os outros.
A exigência consigo mesmo e o querer que tudo seja perfeito ou justificado através da racionalização e do planejamento ostensivo estão na base do imperativo “superexigências”. Onde começa tanta exigência? Ela vem do outro? Daquilo que supomos que o outro quer de nós?
Freud, no último capítulo de “O Mal-estar na Civilização”, descreve que há uma amplitude daquilo que existe internamente no sujeito com aquilo que a cultura apresenta a ele.
Aquilo que enxergamos na sociedade nada mais é do que uma projeção do que acontece dentro de nós.
Nesse contexto, o sujeito pode tomar os discursos que regem a sociedade, o do capitalismo e o das ciências, achando que é “obrigado” a fazer e aderir a essas demandas, sendo que não o fazer poderia desencadear a sua infelicidade. Esse processo diz da alienação subjetiva do sujeito a tais discursos.
Quem perde seu tempo se cobrando para ser o melhor, para isso ou para aquilo, fecha-se para o novo. Esse último não porta garantias.
Mas viver é isso, lançar-se sem um Procon para reclamar de não ser exatamente como achou que foi combinado. É o que temos para hoje, pode não ser tudo, mas já é uma vida com in-finitas possibilidades.
Janilton Gabriel de Souza é psicólogo e psicanalista.