Em 2015 foi lançado um filme alemão que fez comédia com um tema tabu na Alemanha. Além disso, funcionou como um termômetro social para medir o grau de identificação de alguns indivíduos para com a figura controversa de Adolf Hitler. O filme é “Ele está de volta”, dirigido por David Wnendt.
Ironia pura, nele vemos Hitler surgir misteriosamente na Berlim dos dias atuais e reiniciar a “sua luta” para devolver o poder verdadeiro à nação. As cenas mais impactantes mostram pessoas comuns de várias regiões da Alemanha sendo entrevistadas pelo ator Oliver Masucci, intérprete de Hitler que viajou o país caracterizado como tal para flagrar determinadas situações. A não ser por um indivíduo da cidade de Bayreuth, todos os demais expõem opiniões controversas em relação a campos de concentração, preconceito racial, preconceito religioso e nacionalismo.
Um ator fantasiado de Hitler foi o suficiente para as pessoas se encherem de coragem e verbalizarem, orgulhosas diante das câmeras, seus preconceitos, ódios e crueldades.
Como comédia, faz rir ao realocar no tempo e no espaço situações que nos traduzem um determinado entendimento da história, causando, de imediato, o riso diante do estranhamento, do inimaginável, e construindo, a partir daí, uma reflexão crítica não só da sociedade alemã, mas de nós mesmos. Será que corremos o risco de perder a razão sob a influência de líderes com os quais nos identificamos carismaticamente?
Tenho ouvido e lido com frequência referências sobre um tal sentimento de autorização que ronda a sociedade brasileira, o que justificaria o aumento de casos de agressões contra mulheres e de feminicídio, além da perseguição contra outras minorias sociais. As autoridades brasileiras no poder possuem opiniões controversas em relação a estes temas, muitos com histórico de agressões verbais sexistas, preconceituosas, homofóbicas e xenófobas.
A parte da população que concorda com esse tipo de comportamento tende a se sentir “representada”, portanto, mais livre e autorizada para sê-lo, digamos assim. Infelizmente, há autoridades capazes de potencializar o que há de pior na humanidade …pobre humanidade, que perde o senso crítico até diante de um palhaço fantasiado.
Fernando Verga é jornalista mestre em comunicação