O filósofo alemão Friedrich Nietzsche viveu entre 1844 e 1900. É dele a frase “Deus está morto”, que impacta e causa muita polêmica ainda hoje. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, o pensador não quis questionar a entidade divina, só desejou propor uma discussão sobre uma sociedade sem os valores morais impostos pela religião. Como, então, seria o mundo se Deus não existisse?
Se Deus não existisse, não precisaríamos amá-lo sobre todas as coisas, nem respeitar seus outros mandamentos. Poderíamos usar seu nome em vão em palanques políticos jurando fazer milagres no poder, mas, ao chegar lá, esquecer os mais fracos, os necessitados e os desvalidos.
Se Deus não existisse, não precisaríamos guardar os domingos, poderíamos liberar o trabalho para todos, inclusive crianças, e, com um pouco mais de astúcia, criar flexibilizações nas leis trabalhistas que beneficiassem ainda mais o empregador e escravizassem o trabalhador. De preferência retardando a sua aposentadoria.
Se Deus não existisse, poderíamos legalizar a posse e depois o porte de armas para a sociedade “se defender”. Não seria necessário obedecer ao mandamento que afirma: “não matarás”. E se Ele não existisse, também não haveria traições. Todos poderiam cobiçar a mulher ou o homem dos outros e a tradicional família brasileira não se chocaria.
Se Deus não existisse, poderíamos levantar falso testemunho sem pena do próximo. Inventaríamos mentiras, fake news, espalharíamos o ódio em discursos machistas, racistas, homofóbicos, de intolerância.
Por fim, se Deus não existisse, cobiçar as coisas alheias não seria feio. As pessoas poderiam assumir que preferem Ter em vez de Ser. Não precisariam posar de bons mocinhos quando, na verdade, só querem provocar a inveja alheia com estilos de vida estampados nas redes sociais.
Nietzsche escreveu: “Deus está morto! E quem o matou fomos nós! O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas.” E para você, leitor, Deus está morto?
Ayne Salviano é jornalista