Quando deixei o mercado financeiro em 2001, abri, de cara, duas novas portas: uma como professor universitário e outra a própria atividade de consultoria empresarial. Preciso confessar que, no começo, tinha muito medo, pois muitas vezes me encontrava em situações realmente perigosas, visitava empresas em várias partes do país cujos donos, com alguma frequência, pareciam vindos do filme “O poderoso chefão”. Um dia, meu chefe em um banco americano me alertou, Marcelo é melhor você “engrossar o couro”. Por engrossar o couro, logo entendi que eu devia ser mais frio e calculista e pensar no resultado em primeiro lugar, ou seja, no dinheiro e deixar pra lá os valores que trazia comigo, por exemplo, a integridade. Os anos foram passando e uma coisa aprendi e quero dividir com você leitor: é infinita capacidade que o dinheiro tem de cegar as pessoas. Isso mesmo, quantas vezes tomei conhecimento de traições, condutas fraudulentas, arranjos e esquemas que destruíam famílias e empresas unicamente com o objetivo de acumular mais dinheiro. Entretanto, uma questão ficou em aberto por muitos anos; por que empresários multimilionários defendiam publicamente terceiros sabidamente desonestos? Isso na verdade me causava espanto e por mais que me esforçasse simplesmente não entendia por qual motivo isso ocorria e obviamente ainda ocorre com enorme frequência, como todos sabemos. Poderiam, pessoas inteligentíssimas do ponto de vista negocial, se enganar quanto à índole de seus parceiros? Estariam agindo com o intelecto encoberto por vínculos de afeto? Ou será que o poder econômico lhes incutiu na alma, como premissa, estarem eles acima do bem e do mal? Talvez você esteja curioso para saber as respostas e também já tenha as suas, mas o que importa é que eu descobri um santo remédio para navegar nesses mares bravios do mundo empresarial e do comportamento humano, a decepção. Ao me decepcionar e me desiludir por anos e anos a fio, finalmente compreendi que ninguém consegue produzir tanta negatividade sozinho, esse é um trabalho para muitas mãos que se sujam juntas, afinal na lama todo porco é limpo para seus confrades.
Marcelo Prates é consultor empresarial