Completando 60 anos em 2019, a revista em quadrinhos mais popular do país se tornou, além de um grande sucesso de vendas, um enorme sucesso de bilheteria. Concorrendo com animações de estúdios premiados americanos como Toy Story 4 e Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2, o longa, que entra em sua quarta semana de exibição, conta com quase dois milhões de ingressos vendidos no país e já é a segunda maior bilheteria de um filme nacional neste ano (atrás apenas da comédia De Pernas Pro Ar 3), movimentando quase 25 milhões de reais por todo o país.
A história conta a saga dos quatro protagonistas da turma (Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali) em busca do cachorro verde perdido do Cebolinha, o Floquinho. O enredo conquistou os brasileiros que, independente da idade, lotaram várias sessões de exibição e elogiaram a atuação dos jovens atores, além da presença de nomes conhecidos da telinha - como Paulo Vilhena, Mônica Iozzi e Rodrigo Santoro - e a caracterização especial do tradicional bairro do Limoeiro, cenário fictício das histórias em quadrinhos.
Datada de 2013, a história foi idealizada pelos irmãos Vitor e Lu Caffagi e publicada em um projeto onde uma série de artistas brasileiros criava releituras dos quadrinhos. Com tanto sucesso mesmo em pouco tempo de exibição (o longa não chegou ao seu primeiro mês nas telonas), já teve sua sequência confirmada. Daniel Rezende, produtor do filme, deixou escapar em uma coletiva durante a Comic-Con no final do ano passado, que o planejamento era de se fazer uma trilogia. Planos esses que, pelo que tudo indica, serão cumpridos.
A TURMA DA MÔNICA
Com suas primeiras histórias publicadas na Folha da Manhã, atual Folha de São Paulo, o então Analista do jornal e cartunista amador Maurício de Sousa ingressou na área dos quadrinhos no ano de 1959, publicando diariamente as histórias do cachorro azul, Bidu, e seu dono, Franjinha.
Relativo sucesso dentre os leitores do jornal, a Editora Outubro resolveu dar uma chance ao então cartunista com a revista Zaz Traz, mas que logo foi descontinuada. Pouco depois, a também extinta Editora Continental criou a primeira revistinha de Maurício de Sousa, a "Bidu", mas que também, após pouco mais de um ano, chegou ao seu fim.
Com suas histórias se mantendo nos jornais apesar de todos os percalços, o cartunista passou a criar coadjuvantes para interagirem com seus protagonistas. E foi aí que surgiram novos nomes para os quadrinhos. Piteco, Astronauta, Penadinho e Horácio deram as caras pela primeira vez nesta época, mas foi um nome em específico que surgiu e roubou os holofotes: Cebolinha. Originalmente pensado para ser coadjuvante nas histórias de Bidu, o que mudou mesmo foi o fato de que o "troca letras" havia tomado o lugar de protagonismo quase que instantaneamente de Franjinha e seu cachorro e, foi a partir daí, que as tirinhas explodiram.
Mas nem tudo foi um mar de rosas. Depois do grande sucesso que o personagem fez, havia uma grande parcela de leitores que se queixava da falta de presença feminina nas tirinhas de Sousa. Foi aí que entrou a personagem que até hoje dá nome as revistinhas mais famosas do país. Baseada na sua filha, a baixinha mais querida do Brasil, Mônica, surgiu em 1963 para ser coadjuvante do já protagonista Cebolinha. Mas também de maneira muito rápida, seu carisma e explosões de raiva fizeram sucesso com o público e, já no fim da década de 60, ela já era a nova protagonista da Turma da Mônica.
ADAPTAÇÕES PARA O AUDIOVISUAL
Diversas adaptações para televisão e cinema já foram produzidas ao longo destes 60 anos. Em formato de desenho animado, as primeiras versões foram lançadas em 1976 nos cinemas e durando em média, meia hora - e lançados logo depois em vídeo, mas o primeiro grande sucesso de longa-metragem foi o saudoso "A Princesa e o Robô", de 1983, veiculado um ano depois do primeiro longa da turminha, entitulado "As Aventuras da Turma da Mônica". Desde então, dois especiais para a televisão foram feitos, são eles "No Mundo de Romeu e Julieta" (1979) e "A Rádio do Chico Bento" (1989); fora os desenhos produzidos pela Maurício de Sousa Produções para a televisão e vídeo, nenhum outro longa-metragem foi produzido até meados da década de 2000.
CINEGIBI
Lançado em 2004 nos cinemas, a ideia era de produzir adaptações de histórias famosas dos quadrinhos para as telonas, com os personagens interagindo com grandes celebridades da época, como Luciano Huck e Fernanda Lima. Não poderia ter dado mais certo. Sucesso estrondoso de bilheteria entre crianças, adolescentes e adultos, a série lançou outros oito filmes da sequência, todos lançados apenas em DVD, o último em 2016.
Em 2007, foi produzido outro estilo de longa, o "Uma Aventura No Tempo", que contava a história da turma indo atrás de reunir os quatro elementos da natureza para a formação de um quinto, que permitiria a viagem no tempo. Este, que não fez tanto sucesso como o Cinegibi, é facilmente esquecido pelos mais desatentos, mas também tem seu espaço no coração dos amantes da turminha.
O 'LAÇOS'
A idealização do filme veio diante do livro premiado dos irmãos Caffagi, "Laços", que basicamente era a síntese do que o filme conta. Vencedor do 26º troféu HQ Mix de Edição Especial Nacional e Publicação Infantojuvenil, ele foi lançado em 2013 e, dois anos depois, foi lançada a sua continuação, "Lições". No fim do mesmo ano, na época de lançamento da obra, foi anunciado que a Globo Filmes iria produzir uma versão em live-action (quando os papéis de personagens animados são transformados em versões em carne e osso) que seria veiculada entre o começo e o meio de 2019.
A preparação para o longa começou logo. Em meados de 2016 se iniciaram os processos e seletivas para a escolha dos protagonistas. Reunindo mais de sete mil crianças ao redor de todo o país, no final do mês de setembro daquele ano foi publicado um vídeo nas redes sociais da Maurício de Sousa Produções mostrando os vencedores da seleção. Giulia Benite, Kevin Vechiatto e Gabriel Moreira passaram pela peneira e então, foram escolhidos para representarem Mônica, Cebolinha e Cascão, respectivamente. Laura Rauseo, atriz que interpreta Magali, foi escolhida logo em sua primeira seleção, tamanha a identificação do grupo com a atriz, mas para manter a surpresa, não foi contado para a jovem até o momento de anúncio final dos vencedores.
As gravações ocorreram entre junho e julho do ano passado, nas cidades de Limeira e Paulínia (SP), além de Poços de Caldas (MG), mas a preparação do elenco e caracterização, além da cenografia, estavam todos prontos antes do final de 2017.
Recebendo críticas em sua imensa maioria positivas, "Laços" reuniu jovialidade dos atores que, mesmo tão jovens, desempenham papel grandioso em representar personagens que marcaram a infância de inúmeras gerações anteriores as deles. A união com nomes mais experientes e recorrentes no audiovisual da atualidade funcionou e o enredo do filme conseguiu se sustentar pelos seus 97 minutos de duração com tranquilidade. Diante de cenas que nos fazem remeter às historinhas que líamos quando mais novos (ou ainda lemos), a história ganha pontos pela memória afetiva, além da facilidade com que se mantém atual em dias de tanta modernidade sem soar piegas ou pior de tudo, clichê.
O filme ainda está em cartaz nos cinemas da região, com sessões de horários variados e uma facilidade muito grande para ser assistido. Para quem ainda não foi, vale a pena. Para quem já foi, aposto que iriam de novo.