Estive pensando nos conflitos de relacionamento, nas dificuldades todas que aí estão, inclusive nas artimanhas e intrigas de bastidores: em empresas, famílias, conhecidos, colegas. E mesmo nas atividades voluntárias compartilhadas nas instituições movidas pelo ideal religioso, das variadas denominações no Brasil.
Estava meditando sobre os ciúmes, as manipulações, os desrespeitos, as agressões, as acusações e críticas sempre reinantes, nos comentários maldosos e mesmo nos desprezos calculados, nos crimes entre cônjuges, nos abandonos de crianças e idosos, nas enfermidades surgidas de abalos emocionais: campo vasto a se abrir quando começamos a pensar nos dramas humanos e na nossa mediocridade moral…
Foi quando me deparei com o trecho abaixo. Ele consta do livro Roteiro, de Emmanuel/Chico Xavier, no capítulo 1 – O Homem ante a vida. Foi inevitável. Ao ler, nesse momento de tantas dificuldades que nos afetam a todos, em âmbito familiar, social, profissional, nacional, pude constatar: achei a razão maior. Achei o “fio da meada”. Eis a causa. Acompanhe atentamente. Peço ler vagarosamente…
“(…) Confinado ao reduzido agrupamento consanguíneo a que se ajusta ou compondo a equipe de interesses passageiros a que provisoriamente se enquadra, sofre a inquietação do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor. Não sabe dar sem receber, não consegue ajudar sem reclamar e, criando o choque da exigência para os outros, recolhe dos outros os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades de auxiliar e ser auxiliado (…)”
Sugiro releia. E vá pensando nas dificuldades que tem constatado. O amigo leitor se surpreenderá ao encaixar no acanhado ponto de vista em que ainda nos situamos, seja no agrupamento familiar ou na equipe de interesses passageiros: alimentando ilusões e pretensões descabidas, buscando autopromoção, exigindo além do equilíbrio, tentando imposições ou mesmo agredindo muitas vezes, seja com a omissão ou as posturas que não se conectam ao dever do bem que nos cabe.
Aí surgem os choques variados que temos experimentado, frutos todos de nossa imaturidade e mesmo leviandade, muitas vezes. E, pior: criando barreiras para ajudarmos e nos ajudarmos na superação de todas essas lamentáveis mazelas morais.
Claro que isso não é nenhuma novidade. Todos já sabemos. O título foi para provocar curiosidade e levar ao precioso trecho do texto de Emmanuel. O capítulo é muito valioso e aborda as grandezas da vida, mas nos faz reconhecer a pequenez em que ainda nos situamos.
A solução continua na vivência cristã da qual teimamos em nos manter afastados. Estamos convocados a essa nova postura. Seja por gratidão à vida, seja pelo dever de progredir, seja para sairmos da mediocridade em que ainda estamos. A vida conspira a nosso favor e o dever que se apresenta é o de respeitar a vida em toda sua amplitude.
E para concluir, para ampliar reflexão, não deixe de ver Maria Madalena, no Netflix, para sentir ainda mais o que acima citamos.
Orson Peter Carrara é escritor espírita e descreve essa Face Espírita/Ano 12 para publicação na Folha da Região.