CIRANDA DAS ROSAS

Projeto promove cuidado às mulheres com câncer de mama

Por Maryla Buzati | da Redação
| Tempo de leitura: 7 min
Luiz Hirose
Participantes e voluntários do Mulheres em Ciranda 2024
Participantes e voluntários do Mulheres em Ciranda 2024

Em outubro, o país inteiro adere à campanha do Outubro Rosa que, de acordo com o Ministério da Saúde, tem o objetivo de divulgar informações sobre o câncer de mama e fortalecer as recomendações para prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença.

O câncer de mama é uma das doenças que mais atingem mulheres no país e quem é diagnosticada enfrenta muitos desafios no tratamento e na vida pessoal. Mas há pessoas que se preocupam com essas mulheres e idealizam projetos para tentar fazer essa luta o menos difícil possível. É o exemplo do projeto Ciranda das Rosas.

A "Ciranda das Rosas" é um projeto social idealizado por Samantha Moreira, psicóloga clínica com experiência em psico-oncologia e cuidados paliativos. 

A Ciranda teve sua quinta edição este ano e envolve ações para a campanha do Outubro Rosa com o objetivo de sensibilizar a comunidade para a prevenção do câncer de mama. São três ações ao longo do ano: a Ciranda Solidária, a Ciranda de Conversa e Mulheres em Ciranda. E este ano teve uma ação especial, a Ciranda na Moda.

A primeira consiste em cortes de cabelo gratuito para as pessoas que doarem suas mechas em alguns salões parceiros. Há também pontos de coleta de doações de perucas, lenços e turbantes durante todo o mês de outubro. Além de pacientes poderem receber a pigmentação da aréola mamária para reconstrução da mama, de forma gratuita, em um estúdio de estética. E esta ação é ofertada o ano todo.

A Ciranda de Conversa é feita com a live do Instagram denominada “De peito aberto”, com um papo sobre prevenção do câncer de mama ou outros assuntos que possam estar relacionados à vida das pacientes. Este ano foi sobre saúde mental com uma psiquiatra.

A novidade este ano foi a Ciranda na Moda, um desfile realizado em uma loja parceira. Foram selecionadas oito mulheres que já participaram de ações anteriores do projeto para desfilar a coleção da loja e acessórios (sapatos, bolsas e semijoias) de outras lojas parceiras. O evento contou com coquetel e música ao vivo para as mulheres e seus convidados.

Mulheres em Ciranda

O Mulheres em Ciranda é o evento de maior destaque do projeto. O encontro na Quinta do Sardão, localizado na rodovia Marechal Rondon, em Guararapes, com dez mulheres que tratam o câncer de mama - as chamadas Rosas - e voluntários. Este ano ocorreu na manhã de 30 de outubro.

Inicialmente, todos os voluntários formaram um círculo em um espaço aberto, quando as Rosas entraram juntas e foram recebidas com aplausos. Em seguida, cada uma se apresentou, foi feita a oração do Pai-Nosso e uma sessão de dança circular, conduzida pela terapeuta integrativa Liliana Rica. Depois, todos foram para a área do restaurante e se serviram do café da manhã. Em alguns momentos desta primeira parte, houve um músico tocando violino.

Após o café, as Rosas foram levadas para um espaço onde receberam sessões de heiki e de massagem, depois elas foram uma a uma experimentar a fragrância de óleos essenciais e ganharam uma amostra feita para ela própria. Depois disso, houve a maquiagem, a coroa de flores e as fotos em cabine.

As participantes ainda preencheram um cadastro para o Oncoguia, uma ONG e portal informativo e interativo para a qualidade de vida do paciente com câncer, seus familiares e público em geral. Esses cadastros servem como dados para o instituto.

Ao final, todos se reuniram em círculo e foi feita novamente uma dança circular para encerrar o encontro.

Como começou

Samantha conta que sempre teve vontade de fazer um projeto voltado às mulheres em tratamento de câncer de mama. Ela trabalhou por quase dez anos no Hospital das Clínicas em São Paulo, no Instituto do Câncer (Icesp). No hospital, ela percebia essas mulheres muito fragilizadas, com problemas de autoestima. "Enaltecer a beleza delas, como elas são, e fortalecer os recursos delas diante do enfrentamento da doença, foram as minhas maiores motivações".

Samantha foi convidada por uma cerimonialista para dar uma palestra sobre autoestima em uma live no Instagram. Depois comentou com ela sobre esse projeto que sempre teve vontade de fazer, voltado ao câncer de mama. "Ela gostou da ideia e me apoiou muito nesse início. Então o Ciranda das Rosas nasceu no meio de uma pandemia. Nós conseguimos voluntários e o espaço e em três semanas estava tudo pronto”, aponta.

Abraçando a causa

Cíntia Regina de Almeida Alves, 49 anos, professora readaptada, descobriu o câncer há 13 anos e conseguiu um tratamento no Icesp, que é totalmente via SUS. Hoje ela está curada e só faz acompanhamento. Foi no hospital que ela conheceu Samantha, que a convidou para participar da Ciranda em 2023. Após isso, ela decidiu abraçar a causa e fazer parte do projeto como voluntária e de outras campanhas relacionadas ao outubro rosa.

"Como participante eu fiquei bem emocionada, cheia de surpresas. Eu senti todo o amor dos voluntários. Foi um dia de bastante aprendizado. Depois da experiência eu senti que não queria ficar só como participante, eu também queria abraçar essa causa"

Cintia também diz que, desde o ano que descobriu o câncer, a escola em que trabalha a apoiou muito e desde então, todo ano, professores e funcionários preparam um mural informativo no mês de outubro e combinam um dia de usarem rosa no trabalho. "A escola sempre tem me apoiado nisso".

A professora acrescenta que desde que enfrentou o câncer, várias pessoas a procuram para pedir informações sobre o tratamento, como ela passou pela fase, como se cuidar, pedindo orações, etc. E ainda acrescentou: "eu também tenho repetido para mim mesma, que se Deus me deu a cura, o dom da vida, é porque o meu propósito ainda não acabou, talvez essa seja a minha missão. Nunca questionei a Deus o porquê, então fiquei super feliz quando a Samantha me convidou, por depois ter me aceitado como voluntária. Eu espero com isso tudo conseguir que outras pessoas também abracem essa causa".

Bons frutos

Samantha relata que, para ela, um fruto que ela identificou do projeto foi a multiplicação de voluntários e de ações. Ela começou com um café da manhã e hoje tem várias ações. "A priori a ideia era fazer uma rede de apoio para essas mulheres, com o trabalho de pessoas que possam fazer preços sociais para as acolherem".

Outro fruto foi o surgimento do projeto Girassóis, criado por uma participante do Ciranda, onde são feitas reuniões entre mulheres com câncer de mama a cada 15 dias, com palestras de autoconhecimento e trocas de informações. 

A psicóloga relata ainda que percebe a mudança nas pacientes quando passam pela experiência da Ciranda. 

"Elas se sentem, além de empoderadas, vistas, reconhecidas, vendo a beleza de quem elas são, eleva a autoestima delas, o quanto elas também se solidarizam com outras mulheres, a sororidade entre as mulheres, entre as participantes, e também com os voluntários. É muito bonito de se ver, é muito forte, é muito sensibilizador, e elas saem bem gratificadas, elas saem bem amadas, cuidadas, zeladas e a gente percebe que faz uma diferença na vida de uma pessoa, na vida de alguém que é o amor da vida de alguém. O paciente sempre é o amor da vida de alguém."

Ainda segundo a idealizadora do projeto, também é perceptível uma mudança nos voluntários, uma sensibilização maior, o aprender a olhar para o outro e se colocar no lugar dele, adquire mais altruísmo, empatia, se tornam mais disponíveis na vida de quem está passando por alguma dificuldade. "O voluntário sente que recebe mais do que doa quando ele vê o sorriso no rosto de alguém".

Rede de apoio

Para as mulheres que enfrentam o câncer de mama, Samantha afirma que o diagnóstico de um câncer não é uma sentença de morte, pois há a possibilidade de cura. E que também é comum estas mulheres ficarem preocupadas com o futuro do trabalho, da família e da casa. “Geralmente são mulheres que mais cuidam do que são cuidadas e a família precisa se mobilizar como rede de apoio para esse cuidado e olhar para essa mulher”.

A família faz parte da rede de apoio que é composta por médico, enfermeiros, nutricionista, psicólogo, assistente social, fisioterapeuta, etc. Todos precisam ser acolhedores com essa mulher.

Mais informações sobre o projeto: @ciranda_das_rosas_proj

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