Perigo a vista

Araçatuba já registra mais de quatro ataques de escorpiões por dia contra humanos

Por Lauro Sampaio | 19/03/2023 | Tempo de leitura: 5 min

ARAÇATUBA REGISTRA QUASE  4 ACIDENTES POR DIA COM ESCORPIÕES NESTE

 Araçatuba registrou  312  acidentes com escorpiões nos primeiros 76 dias deste ano, entre 1 de janeiro a 17 de março. Os expressivos números apontam que o município já vem catalogando uma média de 4 acidentes por dia envolvendo picadas do animal peçonhento em humanos. Os números foram divulgados pela Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ), da Prefeitura, e abre um  alerta sobre o grande número de acidentes. Nesse período não foi registrado nenhum caso de óbito.

Os casos de picadas de escorpioes na cidade não se restringem a bairros periféricos e atingem, praticamente, toda a extensão da zona urbana. Numa residência que funciona como pensão na rua Floriano Peixoto, centro, os moradores fizeram questão de corroborar os dados divulgados pela Prefeitura. Segundo o vendedor Elizeu Monteiro, 66, no imóvel já foram localizados vários escorpiões, da espécie amarela, uma das mais perigosas do país, e até filhotes do bicho.

"Araçatuba parece ser uma cidade propícia para o aparecimento de escorpiões. Eu mesmo já matei, alguns dias atrás, um filhote de escorpião que estava na porta do meu quarto", disse ele.

Até num edificio da mesma rua, cujo local é bem limpo e arejado e não há lixo nem restos de comida que podem atrair atrair insetos e roedores, já apareceu um filhote de escorpião. "Estava nas escadarias do condomínio e nós o matamos. Não sabemos como apareceu esse bicho porque aqui; tudo é limpo, não tem mato, restos de materiais de construção e sujeira", disse o zelador José do Nascimento, 53.

Segundo a UVZ, Araçatuba registrou 4.155 acidentes envolvendo humanos com escorpiões nos últimos três anos (2020 a 2022);

Os expressivos números apontam uma média de 115 acidentes por mês e uma média diária de quase 4 ocorrências que necessitaram de atendimento médico e registro na UVZ. Em 2020, foram 1439 ocorrências, em 2021, 1295 e, no ano passado, 1424 notificações.

O aumento de ataques de 2021 para 2022 foi de 9.73%. O novo aumento de acidentes envolvendo o animal peçonhento em Araçatuba ocorre num momento em que uma criança de 4 anos de idade faleceu devido à picada do animal peçonhento na região. (ver mais abaixo).

Alterações ambientais

Segundo a chefe da Unidade de Vigilância e Zoonoses de Araçatuba, Talita  Bragança de Oliveira, o aumento  de ocorrências de acidentes com escorpiões está ligado, principalmente, às alterações ambientais, que tornaram os espaços urbanos propícios a abrigos dos animais.

O acúmulo de entulhos, a não vedação de saídas de esgoto e saneamento e o uso de inseticidas que, além de não serem efetivos, acabam desalojando os escorpiões, tornando-os mais resistentes ao veneno, são alguns dos fatores.

De acordo com Talita, os casos de picadas de escorpiões são todos da zona urbana, o que significa que o animal já se adaptou a este habitat por encontrar, nestes locais, comida farta como baratas e restos de alimentos. Nesse período do levantamento divulgado em Araçatuba não foi registrado nenhuma morte por causa do veneno do escorpião no município.

Como medida de proteção contra a circulação dos animais, a responsável pela UVZ recomenda usar tampa nos ralos e não manter restos de construção e entulhos em casa.  O destino correto do lixo, a vedação de rodapés das portas para evitar a entrada e permanência destes animais, são outras medidas recomendadas.

Dor é insuportável

O designer gráfico de Araçatuba, Denis Rodrigues, 29, que foi picado por um escorpião quando trabalhava num ferro velho, disse que a picada do escorpião é "um verdadeiro diabo" na sua frente. Ele conta que foi picado quando foi pegar alguns materiais de reciclagem.

"Eu estava usando luvas, mas percebi a picada num dos dedos. Aí um colega de serviço mandou eu lavar as mãos com água para ver se eu havia sido picado por escorpião. Eu lavei e a dor aumentou e se irradiou por todo o corpo. Tive que ser socorrido e receber o soro contra o veneno. Posso dizer que foi uma experiência muito traumática, que eu não desejo para ninguém. Se eu não percebesse a tempo, provavelmente eu correria o risco de morrer", contou Denis.

Casos de intoxicação

Presentes na natureza há mais de 400 milhões de anos, os escorpiões são os animais peçonhentos responsáveis pelo maior número de casos de intoxicação humana no Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox/Fiocruz).

Para compreender melhor os riscos que esses artrópodes trazem para a saúde humana , o Laboratório de Pesquisa em Epidemiologia e Determinação Social da Saúde do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), chefiado por Claudia Teresa Vieira de Souza, realizou um seminário sobre o tema.

“O escorpião é uma praga urbana, é um fato, e o  número de óbitos por picadas de escorpião, nas áreas rurais e urbanas no país, superou o de mortes por picadas de serpente”, destacou o ex-diretor científico do Instituto Vital Brazil e aluno de doutorado do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Claudio Maurício Vieira de Souza.

Orientando da coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, o biólogo destacou que o Tityus Serrulatus, conhecido como escorpião-amarelo, é típico das regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil, e é responsável por provocar acidentes graves, sobretudo, em crianças e idosos. “Essa é uma das espécies mais venenosas que existem e vem se espalhando em áreas urbanas por que, entre outras coisas, prolifera facilmente e estaria ocupando o lugar de escorpiões menos nocivos”, disse.

Segundo Claudio, o escorpião não costuma atacar sua presa e usam o veneno, basicamente, como instrumento de defesa. O artrópode é atraído por locais habitados por baratas, que são uma fonte de alimento e costumam aparecer com mais frequência durante o verão. Os escorpiões se adaptam muito bem à vida no subterrâneo das cidades e quando buscam um abrigo provisório, acabam subindo pelas tubulações, ocasiões em que podem terminar escondendo-se dentro de residências.

Morte de criança em Birigui

A Santa Casa de Araçatuba confirmou em janeiro deste ano  que a morte de um menino de 4 anos, residente em Birigu,i foi causada por picada de escorpião. O menino foi atendido no Pronto-Socorro de Birigui na madrugada de sábado, 31 de janeiro,  após acordar com fortes dores e vômito.

Como o menino não melhorava, ele foi  transferido para a Santa Casa de Araçatuba e internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu.

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